Opinião
Natal, finalmente...
Nesta reflexão, as compras de Natal não valem, como é óbvio, absolutamente nada. São até algo supérfluas face ao que se está a falar, mas não deixa de ser um sinal interessante de que as pessoas voltaram a sentir alegria em fazer o que gostam.
A dois dias do encerramento da época de compras para o Natal, pode-se já, em jeito de balanço, afirmar que este ano houve maior movimento e mais negócio para o comércio e para a restauração. Não ao nível dos anos que precederam a crise, mas acima dos que lhe sucederam, quando o pessimismo e o medo tomaram conta do País.
Este ano, apesar de ainda serem grandes as dificuldades para boa parte das famílias, percebeu-se outra confiança, mais ânimo, alguma alegria. Sentiu-se um ambiente diferente do cinzento que caracterizou os últimos natais, eventualmente influenciado pela melhoria de alguns indicadores económicos, nomeadamente ao nível da taxa de desemprego, mas também, com certeza, fruto de uma reacção à adversidade própria do povo português.
De facto, a nossa história diz-nos que os tempos de crise e de dificuldades têm sido uma constante desde que Afonso Henriques se rebelou contra a mãe, mas também mostra que sempre tivemos capacidade para inventar soluções e para reagir aos períodos menos bons. É o que se vê agora, mais uma vez, acontecer, com as pessoas a não darem nada como perdido e a lutarem como podem, nas diferentes áreas, por dias mais luminosos e com melhor qualidade de vida.
Só esse espírito guerreiro tem permitido que a nossa economia venha, ano após ano, a crescer nas exportações, que as associações de solidariedade e de âmbito cultural consigam estar mais dinâmicas e interventivas do que nunca, que tenha nascido uma imensidão de novas empresas, algumas das quais de elevada componente tecnológica e de inovação, que o turismo apresente números recorde, ou, simplesmente, que as pessoas tenham voltado a levantar a cabeça e a olhar para a vida de frente. Muitas ainda, certamente, sob enormes dificuldades, mas agora com uma atitude menos conformista perante as mesmas, como quem diz que não vão ao chão por KO e que estão cá para viver a vida a que têm direito.
Nesta reflexão, as compras de Natal não valem, como é óbvio, absolutamente nada. São até algo supérfluas face ao que se está a falar, mas não deixa de ser um sinal interessante de que as pessoas voltaram a sentir alegria em fazer o que gostam e, principalmente, de que já não estão tão tolhidas pelo medo.
Claro que se poderá dizer que voltámos aos tempos do consumismo que ajudaram a entrar no buraco em que nos enfiámos (apesar de sabermos hoje que essa fatia é infinitamente menor que a que cabe aos buracos financeiros criados pela banca e por outras grandes empresas), como se poderá dizer que nos esquecemos rapidamente dos problemas e que voltámos a gastar acima das nossas possibilidades.
No entanto, não deixa de ser animador que, sob um maior optimismo e confiança, as pessoas tenham saído debaixo das camas e recuperado alguns dos prazeres que dão sentido à vida, mesmo que em desrespeito da lógica das folhas de Excel dos economistas mais iluminados.