Opinião

Música | Primeiro terço de 2023

12 mai 2023 15:00

São muitos os belíssimos motivos que este 2023 nos tem oferecido para dar a volta ao mundo à velocidade do som

Quatro meses decorridos e são já muitos os lançamentos discográficos que vão marcando o ritmo da casa, aqui ficam algumas linhas para nomes e discos que, acredito, ainda não tiveram o destaque que mereciam.

Cosmo Sheldrake é filho de um parapsicólogo e de uma professora de canto, o irmão é biólogo e, nos últimos anos, tem-se assumido como um dos mais interessantes compositores e produtores britânicos. Usando sons recolhidos em diferentes ambientes e jogando com a melodia e a improvisação, Cosmo Sheldrake já contava com dois discos mas no passado mês lançou Wild Wet World, uma homenagem aos oceanos que inclui registros sonoros capturados ao longo de uma década, e a abertura com “Bathed in Sound” é, provavelmente, a melhor canção que ouvi nos últimos meses.

A exploração do universo jazzístico pelos Go Go Penguin e da música clássica contemporânea em dialética com a electrónica pelos Grandbrothers faz-se em dois discos arrebatadores. Everything is going to be ok e Late Reflections, respectivamente, são trabalhos que ficarão certamente na nossa lista de discos mais ouvidos deste ano de 2023.

O regresso dos Young Fathers com Heavy Heavy mostra-nos uma formação em crescendo, que parece ter abandonado a vala comum do novo indie para assumir uma maturidade e uma coragem assinalável.

A inspiração da música tradicional irlandesa que se deixa contagiar pelas linguagens mais próprias do post rock e de outras explorações faz de False Lankun, dos Lankun, um dos discos mais arrojados e entusiasmantes deste primeiro quarto do ano e os novos trabalhos de Daughter, Yo La Tengo e Fever Ray testemunham três grandes momentos de forma.

No que toca a pesos pesados este 2023 começou com um belíssimo novo disco de Iggy Pop a que se seguiu Cracker Island, dos Gorillaz, um trabalho que até podia parecer uns furos abaixo mas que cresce (e de que maneira) a cada audição.

Para fechar gostava de destacar o regresso de Robert Foster (a figura incontornável dos australianos The Go-Betweens) com The Candle And The Flame, o trabalho póstumo do maior embaixador musical do Mali, Ali Farka Touré, em Voyageur, o segundo longa duração da sul coreana Yaeji, With a Hammer, um novo tomo de revisitação do legado turco pelos Altin Gun, em Ask, a descoberta da compositora russa Kate NV com o seu novo WOW, e a deliciosa festa multicultural de nuestros hermanos Za! & La TransMegaCobla.

São muitos os belíssimos motivos que este 2023 nos tem oferecido para dar a volta ao mundo à velocidade do som.