Opinião
Música | Mort Garson: O Jardineiro Cósmico
Um artista que, nos anos sessenta e setenta, cultivou jardins sonoros completamente diferenciados
Em 1976, um disco muito especial começou a circular discretamente entre lojas de plantas e entusiastas da botânica: chamava-se Mother Earth's Plantasia, uma criação de Mort Garson, com composições interpretadas em sintetizador Moog, apresentando-se como “música para plantas e pessoas que as amam”. Vinha acompanhado com um desdobrável com dicas e instruções de utilização e de boas práticas e, apesar de ter feito furor num nicho, nas últimas duas décadas foi redescoberto e elevado a disco de culto por uma geração fascinada pela fusão entre natureza e tecnologia.
Garson, nascido no Canadá e formado na Juilliard School, teve uma carreira difícil de descrever. Na década de sessenta, colaborou com artistas como Doris Day e Glen Campbell e, quando conheceu Robert Moog, passou a assumir-se como um dos criadores mais inovadores, explorando, com o sintetizador Moog, territórios sonoros inéditos, como The Zodiac: Cosmic Sounds, Black Mass (sob o alter ego Lucifer) ou Music for Sensuous Lovers (sob o alter ego Z), aventuras sónicas onde se manifesta o misticismo, a experimentação electrónica e o cruzamento com outros sons inesperados.
Garson criou ainda bandas sonoras para filmes e até para a cobertura da missão Apollo 11 pela CBS, com a peça “Moon Journey”. A sua contribuição pioneira para a música electrónica conseguiu, com as reedições dos últimos anos, sair da esfera de culto que influenciou muitos outros criadores para o público em geral.
Numa época em que se procuram possíveis ligações entre o orgânico e o digital, desbravar a obra de Mort Garson é descobrir ou redescobrir um artista que, nos anos sessenta e setenta, cultivou jardins sonoros completamente diferenciados, onde universos aparentemente antagónicos funcionavam como terra e água para que florescesse uma nova linguagem sonora.