Opinião

Música | Fala com Valéria

19 out 2021 15:41

Madrid sempre foi, para mim e mais alguns malandros, a cidade mais à mão para ver as bandas que, por uma ou outra razão, não passavam por Portugal

Não é de agora que a indústria áudio-visual espanhola apresenta grandes trabalhos no cinema e televisão, de Buñuel a Almodóvar, passando por Carlos Saura ou Isabel Coixet, são muitos os nomes conhecidos mundialmente, isto só para dar alguns exemplos. Por isso, não é de estranhar que em tempos de streaming, os nossos vizinhos do lado estejam na linha da frente com algumas das séries mais queridas do público. Depois do sucesso estrondoso de La Casa de Papel, outras séries fabricadas em Espanha ganharam notoriedade e Valéria é uma delas - é inevitável a comparação a Sex and the City, aqui numa versão indie-pop, com Madrid a servir de cenário em vez de Nova Iorque. Vou deixar a história, elenco e tudo à volta para o leitor explorar na Netflix, apenas digo que se trata de bom entretenimento e que é altamente recomendável para quem anda perdido nas tendências atuais: da decoração de interiores à moda, passando pelo lifestyle e música, está lá (quase) tudo o que um ser humano precisa de saber acerca da Geração Z, gente que nasceu nos anos 90 e cresceu com a internet. E música, muita música.

Madrid sempre foi, para mim e mais alguns malandros, a cidade mais à mão para ver as bandas que, por uma ou outra razão, não passavam por Portugal, ou quando passavam, já não eram novidade para ninguém. Por lá vi o Bruce Springsteen, The Strokes, Magic Numbers, Belle & Sebastian e, por um triz, não vi Atocha explodir com os atentados de 2004, numa destas incursões à capital espanhola. A propósito dos concertos, fui conhecendo a cidade e toda uma onda vibrante à volta dela, principalmente nos bairros Malasaña, Chueca, La Latina e Lavapiés. Recordo, assim de repente, o maravilhoso bar Via Láctea em Malasaña, que nos anos 80 foi palco da La Movida e onde Almodóvar parava frequentemente com as suas Chicas. A música sempre fez parte do roteiro madrileno e, antes de voltar a casa, trazia sempre a revista Rockdeluxe com as últimas novidades indie e os seus discos de oferta, através da qual ficava a conhecer muitas bandas espanholas.

Em Valéria, percebe-se que Malasaña continua a ser um dos bairros de eleição e a banda-sonora guia-nos por uma “nova” Madrid onde se ouve Billie Eilish, London Grammar, Oh Wonder, Nathy Peluso, Daya, Bomba Estéreo, etc, e também alguma música do meu tempo como os Add N To (X) com Loud Like Nature, um tema de 2002. Ao ver Valéria, a minha geração pode sentir algumas saudades de ter vinte anos a menos, mas verificará que o espírito rock & roll não é muito diferente, apenas mudaram os copos de gin. Para melhor, claro.