Opinião
Música | Cinco décadas de emoção: a trajetória em 50 anos de música
A música transformou-se num espelho da sociedade, reflete mudanças culturais, políticas e tecnológicas
Quando uma pessoa chega a esta idade é natural querer fazer balanços. Ao longo de 50 anos, a música transformou-se num espelho da sociedade, reflete mudanças culturais, políticas e tecnológicas. Desde os anos 1970, quando do disco sound ao rock progressivo ditavam os rumos do cenário musical – para choque das gerações mais velhas e um aborrecimento profundo para os jovens que não se reviam nessas estéticas – até os dias atuais, marcados pela diversidade de géneros e plataformas digitais, cada década deixou sua marca inconfundível.
A música de intervenção portuguesa cantava também sobre ela própria, com parcos meios técnicos ao vivo, um microfone para seis músicos, umas cornetas que eram as colunas de som fazendo com que a principal missão desta canção – a palavra – não fosse percetível. Valiam os discos, o passa palavra, e sobretudo a cantar sem amplificação. Aí ao menos tudo era cristalino. O pós 25 de abril foi um tempo de mudança e nada seria como antes.
Nos anos 1980, o surgimento da pop eletrónica e das baladas românticas embalou uma geração que buscava o escapismo e glamour. Ainda me lembro de, nos anos 90, me venderem a década de 80 como uma coisa foleira, a preto e branco, mas nada mais errado. Foi uma época de transformações sociais, o berço do hip hop, o desvio do punk herdado do final dos setentas, o Regan, o Gorbatchov, a Thatcher, o Cavaco, o Ceaușescu, o canal único da RTP, o correspondente Vasco Lourinho a partir de Madrid, e sim, o Portugal na CEE, “na rádio, na tv e nos jornais de quem não lê”.
A década seguinte de 90 trouxe a rave, o grunge, a música alternativa ganhou espaço, os Nirvana destronaram o Michael Jackson nos tops, como vozes de agonia e autenticidade. As gloriosas bandas rock dos cabelos voadores dos anos 80 ficarem sem espaço e, ou se adaptaram – como os Bon Jovi ou Aerosmith – ou ficaram para um segundo plano, mas com fãs dedicados. Na verdade, os Scorpions ou os Iron Maiden continuaram a andar por aí e em grande. Mas o fascínio do alternativo foi aproveitado pelos próprios. Disse o vocalista dos Sonic Youth que a editora Geffen lhes tratou da hipoteca da casa e ainda tinham direito a um bom seguro de saúde, o que nos Estados Unidos, resolve a vida a qualquer um.
Os anos 2000 consolidaram a globalização musical com o advento da internet e a partilha de arquivos digitais. A tecnologia desenvolveu-se ainda mais, o vinil voltou a ser moda, apesar da grande fatia de lucro dos artistas acontecer em cima de um palco e já não na venda de discos. Hoje, artistas independentes convivem com superproduções globais, e a música tornou-se mais acessível do que nunca.
Tem sido uma boa viagem e o veículo é essa grande invenção: a música.