Opinião
Música | Alla, a nova ópera de Surma
O álbum poderia ter sido produzido na Islândia, Inglaterra ou Canadá por uma daquelas bandas que desde os anos 90 andam a influenciar o space-rock leiriense
Aí está o novo disco de Surma. Depois de Antwerpen, de 2017, a artista leiriense apresenta um trabalho novo. Alla conta com a colaboração dos músicos Cabrita, Vitor Torpedo, Selma Uamusse, Ana Deus, João Hasselberg, Pedro Melo Alves, Noiserv, Ecstasya, Joana Guerra e Angélica Salvi. Boa gente que só acrescenta valor artístico a um registo que requer várias audições até nos encantar por completo.
Alla poderia ter sido produzido na Islândia, Inglaterra ou Canadá por uma daquelas bandas que desde os anos 90 andam a influenciar o space-rock leiriense – não sei se é do frio de rachar que se faz sentir na nossa terra, mas deve haver uma boa razão para gostarmos tanto dessas sonoridades. Em Lisboa, no Barreiro, em Braga ou Coimbra, a música já é outra.
Mas voltando a Alla, confesso que esperava mais rasganço depois de ouvir o single “Islet” - há aqui um grito de revolta, quase punk, fazendo lembrar até o movimento Riot Grrrl, que depois não tem continuidade no disco. Mas isso não é mau, atenção, apenas torna o disco mais experimental, imprevisível, explorando novas sonoridades que os músicos convidados ajudam a consolidar – oiça-se, por exemplo, o notável contributo de Hasselberg (contrabaixo) e Pedro Melo Alves (bateria) no tema “huvastï” ou o tribalismo de “Nyanyana” com a linda voz de Selma Uamusse.
Para além da riqueza musical, temos em Alla uma riqueza pessoal, com Surma a revelar alguns episódios menos agradáveis que a marcaram ao longo dos anos e não escondendo isso mesmo nas entrevistas que tem dado. Surma é um exemplo a seguir e a música, como bem sabemos, pode ajudar-nos a resolver problemas complicados e a sermos aquilo que queremos ser.
Alla poderia ser uma ópera contemporânea em 10 atos (o tema final dedicado aos Velvet Underground não conta), com encenação e imaginação nas nossas cabeças; ou então a banda-sonora perfeita de uma série como Sex Education – “Islet”, pelo menos, encaixaria que nem uma luva.
Aguardamos agora os espetáculos ao vivo, esperando então que a “ópera” Alla suba ao palco: no dia 6 de dezembro no Teatro José Lúcio da Silva, Leiria; no dia 10 de dezembro em Braga, no gnration; 11 de dezembro no Porto, Novo Ático, Coliseu; 16 de dezembro em Aveiro – Gretua; e no dia 17 de dezembro, em Lisboa, na Culturgest.