Opinião

Música | Afinal havia outra

12 nov 2022 11:46

O entretenimento (é claro que incluo o deslumbramento) pode ser sustentável, inclusivo, e sem atropelar princípios básicos

Os apelos à resignação disfarçados de bom senso, não colhem. Afinal havia outra maneira de abordar os eventos em Leiria sem meter em causa a sua realização. O entretenimento (é claro que incluo o deslumbramento) pode ser sustentável, inclusivo, e sem atropelar princípios básicos. O programa das festas não acaba, mas melhora-se e está tudo certo.

A parte boa é que rendeu uma das melhores capas de sempre ao JL - da autoria de Bruno Gaspar - e vi entrevistados dois investigadores ligados ao som já citados aqui em textos anteriores: Raquel Castro e Carlos Alberto Augusto. Foi algo coletivo e quero acreditar que se evoluiu alguma coisa, por exemplo, desde dezembro de 2021, a propósito de um texto que aqui escrevi sobre o conceito de Ecologia Acústica. Destacava o artigo, O Mundo Social do Ruído, de Carlos Fortuna, e acabava a exemplificar a esquizofonia das Aldeias de Natal desta vida e a de Leiria em particular, com o peso de ser Cidade Criativa da Música.

Com aquela petulância do aluno que nem leu o enunciado recebi como resposta a cassete: “criticar é fácil, fazer é que dá trabalho”. O esvaziamento crítico falhou-lhes agora e provou-se que existem dinâmicas de reflexão próprias que vão muito além do simples protesto. Pouco importa se uma seleção musical vem diretamente da UNESCO ou se vem cá o Fittipaldi. Como é que o fazem? Conteúdos válidos podem ter aplicações desastradas.

Algumas preocupações ambientais agora anunciadas nem são novas, como a proposta do Governo em reduzir o número de horas das iluminações de Natal, e falta saber a posição em relação aos decibéis. Mantendo a face, falta resolver as dinâmicas dos dias europeus sem carros e corridas com automóveis a chiar logo a seguir. Apetece citar António Cova & os Bordel Ravel: "Não gosto de ti… espera, afinal gosto!"

O despacho da Câmara de Leiria de 18 de outubro também fala em descentralizar: “incentivar a distribuição de projectos noutros pontos da cidade e do concelho”. Quem acha que a folia deve acontecer, mas desde que seja à porta dos outros, é lidar. É a representatividade, pá! Na década de 1990 houve uma deslocalização em Leiria embora essa fosse forçada. A cidade não permitia grandes expressões urbanas, tendo as localidades do nosso concelho acolhido inúmeros concertos de braços abertos.

Recém premiada pelos seus pares, diz a página Visite Leiria sobre 2022 Leiria Cidade Europeia do Desporto, que “Leiria é um concelho que não admite deixar ninguém de fora”, aludindo às “571 instalações desportivas”, entre “pavilhões, piscinas, pistas e espaços públicos”.

É que é isso mesmo! Aguardemos só que a cidade promotora olhe para si própria.