Opinião

Música | Europa, querida Europa

9 mai 2019 00:00

Crítica | "Hoje comemora-se o Dia da Europa, uma das mais bonitas construções políticas e ideológicas depois da invenção da democracia"

Estamos em Leiria, com eleições europeias à porta onde pouco se discute e com uma candidatura da cidade a Capital Europeia da Cultura que começa a desenvolver actividades públicas e participadas.

E eu, europeísta convicto, adoro festejar, nem que seja sozinho, o 9 de Maio. A relação de partilha sonhada para a Europa é sempre de duplo sentidos e, motivado pela comemoração do dia da Europa socorri-me de alguns números sobre a partilha musical entre Leiria e os países europeus no momento mais que actual.

Nas saídas, no último mês e meio os First Breath After Coma já somaram 27 datas na Europa, Surma já contou 16 e os Whales que começaram o ano no Eurosonic estão a chegar de uma residência artística em França.

Foi uma roda-viva por entre palcos de Espanha, França, Alemanha, Holanda, Itália, Luxemburgo, Reino Unido e Eslovénia (além das passagens na europeia mas não tanto europeísta Suíça).

Nas entradas o Monitor e A Porta assumem um protagonismo ímpar, senão veja-se: o Festival Monitor, organizado pela super equipa da FADE IN, no próximo dia 25 de Maio, apresenta em Leiria e em estreia nacional seis projectos musicais europeus (dois franceses, um italiano, um espanhol, um grego, e um polaco sediado na Alemanha).

Em Junho, o Festival A Porta apresenta projectos que nos chegam de Dinamarca, Finlândia, Reino Unido, Bélgica, Holanda e França (além de outras iguarias musicais internacionais oriundas da Oceânia, da América do Sul e do continente africano).

Estamos apenas a constatar que o sector da chamada música alternativa de Leiria, no último mês e meio, colocou três projectos a darem mais de 40 concertos em oito países da Europa e, no próximo mês, recebe 14 projectos internacionais com ligações a 11 países da União Europeia.

Tendo em conta que estes movimentos são inteiramente programados e geridos por agentes e artistas da cidade, creio que é fácil dizer que Leiria tem muitos motivos para festejar o 9 de Maio. Oxalá o público participe e encha sempre estas e outras iniciativas levadas a cabo por quem quer viver em Leiria e torná-la numa cidade cada vez mais interessante.

A União enfrenta o Brexit e tem de concentrar muitos dos seus esforços na economia, mas uma das principais apostas para os próximos anos é a criação e a partilha da diversidade cultural e entende-se que só isso pode travar os totalitarismos e manter o projecto europeu vivo.

No entanto, isso não sobrevive só no papel, requer mobilização e participação. A abstenção que nos actos eleitorais muitas vezes é justificada como cartão amarelo para quem nos representa, nos actos culturais, essa ausência e indiferença, é sempre um cartão vermelho para quem trabalha por todos e sonha que a cultura pode salvar o mundo. 


*Fundador da Omnichord Records