Opinião
Mobilidade (in)sustentável
Isso da mobilidade sustentável é coisa de meia dúzia de freaks das biclas
Há uns dias, cruzei-me com uma notícia do Expresso que revelava que, entre 2011 e 2021, Portugal recuou tremendamente no que à mobilidade sustentável diz respeito.
Pelos vistos, de acordo com os Censos, na última década, em 296 dos 308 concelhos do País, ou seja, 96%, registou-se “um aumento do peso das deslocações de carro para o trabalho ou para a escola”. E, a nível nacional, diminuíram as idas a pé, de autocarro e de transporte escolar ou da empresa.
Numa altura em que a mobilidade é, aqui em Barcelona, tema central da campanha para as autárquicas de 28 de Maio e em que, recentemente, se ficou a saber que as políticas da actual autarca e candidata, Ada Colau, contribuíram para a diminuição de 11% da circulação de automóveis na cidade desde 2015, os números portugueses são, para mim, absolutamente deprimentes.
Com toda a legitimidade, deveriam gerar a fúria generalizada do povo, fazer correr oceanos de tinta nos jornais e alimentar horas a fio de debates inflamados nas televisões. Pois. Nem fúria, nem tinta. Muito menos debates inflamados.
Se a coisa não mete Ventrulha, TAP, bola ou Marcelo a comer gelados... Isso da mobilidade sustentável é coisa de meia dúzia de freaks das biclas. Já se sabe que um gajo sem carro não pode ir a lado nenhum e autocarros só servem para atrapalhar o trânsito.
O que é preciso é mais estacionamento. Comboios? Andam sempre atrasados. A pé? Vai tu, pá! O que interessa é mostrar fachos a manifestarem-se contra a liberdade no 25 de Abril, putos “liberais” mima-dos a promoverem putos misóginos mal educados ou insuflar tricas de vão de escada para minar o Costa.
Já dar voz a quem luta por melhores transportes públicos, mais sustentáveis, mais eficazes e mais baratos... Afinal de contas, se perguntarem a qualquer um dos vossos amigos aí em Leiria, porque é que vão de carro a todo o lado (apesar de se estarem sempre a queixar que não têm onde estacionar), a resposta é, invariavelmente uma: “Queres que vá num autocarro que não existe?”
Mesmo que fosse verdade, quando é que foi a última vez que esses vossos/meus amigos mexeram uma palha para reivindicar mais e melhores autocarros urbanos, a preços dignos e com horários bem estruturados? Pois.