Opinião
Limites, os da lei e os da idade
Em sete anos, desde que ganhou a Câmara de Leiria, o executivo liderado por Raul Castro regularizou a situação a cerca de duas centenas de empresas que, por uma ou outra razão, se encontravam em incumprimento perante a Lei.
Em muitos casos eram questões de pormenor, sem grande significado, mas que se arrastavam há vários anos com prejuízo para a actividade das empresas, nomeadamente no impedimento de se candidatarem a fundos europeus. Problemas que iam fazendo desesperar os empresários, impotentes para lidar com o emaranhado da teia burocráticoadministrativa que exigia sempre mais um papel, uma licença ou um parecer.
O empenho que este executivo colocou na resolução desses problemas foi, sem dúvida, uma decisão feliz e facilitadora da actividade económica do concelho, que incluiu em alguns casos a criação de emprego.
Outros casos houve, no entanto, em que o empenho político foi claramente exagerado, permitindo a regularização de situações que eram verdadeiros crimes ambientais e ofensivos ao interesse público. Empresas que, em vez de multadas e obrigadas a repor o ordenamento do território que o PDM contempla, viram o crime compensar e as suas construções em reservas agrícola ou ecológica passarem, como que num passe de mágica, a estarem conforme a lei. Terrenos que compraram por tuta e meia por não ser possível construir e que repentinamente multiplicaram os seus valores. Situações que, além de lesarem a coisa pública, deturpam as regras da concorrência face a quem foi obrigado a pagar mais por terrenos fora de reservas, mas também injustas para os antigos donos dos terrenos que os venderam por preços baixos no pressuposto de que não poderiam receber construção.
Agilizar e desburocratizar, sim... mas com limites.
Ultrapassar os 80 anos e continuar a trabalhar, não é para todos. Desde logo, logicamente, por questões de saúde e de longevidade. Também porque quem trabalha por conta de outrem está dependente da vontade da empresa em manter o vínculo para lá dos 70 anos e aos funcionários públicos essa hipóteses é vedada pela Lei.
Há ainda muitos que nem colocam esse cenário, passando os últimos anos de trabalho a ansiar pela reforma e a contar os dias para a sua chegada. No caso dos empresários com quem o Jornal de Leiria falou nesta edição, cinco dos 13 que a Nerlei homenageou a semana passada, percebe-se que a reforma foi uma questão que nunca se colocou por as empresas que criaram ou ajudaram a crescer serem sentidas como parte das suas vidas. Quase como filhos que não se podem abandonar. Têm, obviamente, a possibilidade de, enquanto proprietários, manterem-se a trabalhar com uma intensidade ajustada à idade e, em alguns casos, sem grande exigência de horários e responsabilidades. Mas, mais importante, têm o privilégio de gostarem do que fazem e de não sentirem o trabalho como um peso ou um sacrifício.
Terá sido esse sentimento que lhes permitiu construir o que construiram, chegando aos 80 anos com empresas sólidas e de referência, o que normalmente só acontece quando se trabalha com entusiasmo, gosto e muita dedicação.
*director do JORNAL DE LEIRIA