Editorial

Liberdade em tons de verde

7 ago 2025 08:01

Iniciativas deste género destacam-se pela positiva, ao romperem com a lógica punitiva tradicional

É um exemplo prático de inovação social aplicada à reinserção de jovens reclusos. No Estabelecimento Prisional Leiria-Jovens está em crescimento um projecto que consiste na construção e exploração de uma horta vertical, onde são produzidos produtos hortícolas destinados a ajudar famílias mais carenciadas, através de cabazes solidários distribuídos pelo Banco Alimentar, Cáritas ou Cruz Vermelha.

Num contexto em que as cadeias portuguesas, em especial a ex-Prisão Escola de Leiria, foram abandonando o ensino de profissões, iniciativas deste género destacam-se pela positiva, ao romperem com a lógica punitiva tradicional e apostarem numa abordagem que alia a capacitação técnica à formação pessoal e social, dando oportunidade aos jovens reclusos de se sentirem melhor preparados para regressar à sociedade no fim do cumprimento da pena e de contribuírem activamente para minimizar as carências dos mais desfavorecidos.

Ao erguerem e cuidarem das hortas verticais, ao aprenderem sobre produção sustentável, nutrição, empreendedorismo e competências emocionais, estes jovens não se limitam a passar o tempo com cada parafuso apertado ou com cada leguminosa plantada. Eles estão a adquirir ferramentas que lhes podem restaurar a confiança e o sentido de pertença à comunidade, que um dia esperam voltar a integrar.

Como nos explica a directora do estabelecimento prisional destinado a reclusos com idades entre os 16 e os 21 anos, a estratégia assenta na tentativa de proporcionar acções de formação complementares à oferta curricular existente, criando, ao mesmo tempo, um ciclo de solidariedade que devolve a dignidade a estes jovens, ajuda a construir pontes e a diluir barreiras. “Procuramos ter um ensino um pouco diferente daquele que eles tiveram no exterior e que não resultou, associando a educação formal à educação não formal”, especifica Joana Patuleia.

Se a produção correr de feição, é esperada a recolha anual de uma tonelada de alimentos.