Opinião
Letras | Presente ou prenda?
Um livro é um bom presente; não falha. Se o presenteado não gosta de ler, há sempre livros com bonecos, com fotografias, com receitas, para pintar
Um estudo nada científico procurou entender a preferência do uso das palavras “prenda” e “presente”. Da pequena amostra obtida, conclui-se que “prenda” reúne mais consenso. Ficaria bem apontar as percentagens exatas destes resultados, mas não temos os dados aqui presentes.
Revelou-se que “presente” tem uma conotação mais snob, ao passo que “prenda” se aplica ao linguajar do povo.
Ora, se snob vem do francês “sans noblesse” (sem nobreza), que lhe inverte o sentido, conclui-se que “presente” também é popular.
O presente estudo, que ora se apresenta no presente do indicativo, propõe escarafunchar o domínio lexical das duas palavras, e confrontá-lo com trocadilhos fraquinhos, mas bem-intencionados.
Aprende-se que, para prender bem a prenda, é preciso um bom laço. Mas há laços e laços. Alguns vão-se mantendo com presentes pouco pensados, ao sabor do “para quem é bacalhau basta” (o consolo na consoada).
Outros laços, porém, reforçam-se quando os entes queridos estão presentes: a melhor prenda.
Mas – temos de admitir – aquele presente, embrulhado em papel com bonecada de Natal e um bom laçarote prende-nos logo a atenção. Toca-se, balança-se, sente-se. Ah, tu queres ver que é um livro? Ah, que rica prenda me saíste por teres acertado em cheio!
Um livro é um bom presente; não falha. Se o presenteado não gosta de ler, há sempre livros com bonecos, com fotografias, com receitas, para pintar.
O livro Manhã é uma bela prenda. Presenteia logo pela capa: uma imagem de pequenas esferas metálicas, aquelas que eram usadas nos anos oitenta e noventa para decorar os bolos.
E depois há o miolo. O dos bolos, para onde a memória gustativa nos levou, e o do livro. São poemas, frases, textos, miniestórias, trocadilhos, recordações, viagens no tempo, ideias, pensamentos disruptivos.
“Era uma vez uma escritora tão poupada que não escrevia para não gastar papel e tinta”. É a Adília Lopes, senhoras e senhores, a mulher prendada que nos presenteia.