Opinião

Letras | Carta ao Jovem Poeta, Jorge de Sena

19 abr 2024 08:00

Da sua habilidade de crítica emerge aquilo que pensa ser útil ao jovem poeta. Deve ser antes de mais na obra ensaística, antididático de modo a contribuir para a confusão dos espíritos

Poeta e crítico, foi também tradutor, director-literário e revisor. Após o envolvimento no golpe de estado em 1959, procura exílio no Brasil onde lecciona primeiro Teoria da Literatura e depois Literatura Portuguesa. Cumpre o Doutoramento em Letras e é um dos mais profícuos investigadores da obra de Luís de Camões. Deixou-nos obra vasta, legando mais de vinte colectâneas de poesia, dezenas de peças de teatro como dramaturgo, ficção, romance autobiográfico, contos, ensaios, etc. É tido como um dos mais influentes intelectuais portugueses do século XX. Perseguição (1942); Pedra Filosofal (1950); As Evidências (1955); Fidelidade (1958); Poesia I (Perseguição, Coroa da Terra, Pedra Filosofal, As Evidências, e o inédito Post-Scriptum) são as suas obras de maior evidência.

Na esteia de Rainer Maria Rilke e das suas famosas Cartas a Um Jovem Poeta, esta Carta ao Jovem Poeta que Sophia de Mello Breyner Andresen é incumbida de convidar alguns poetas portugueses para figurarem numa obra colectiva com poetas brasileiros, pontificando pela sua clarividência especulativa e inteligência sensível em toda a sua obra ensaística, Jorge de Sena.

Da sua habilidade de crítica emerge aquilo que pensa ser útil ao jovem poeta. Deve ser antes de mais na obra ensaística, antididático de modo a contribuir para a confusão dos espíritos. Deve o poeta ponderar profundamente se a sua escrita busca ser laureada, se dela não advém da dor, ou em último caso ser solitária. Se o poeta tem a noção nem que seja vaga, dos horrores a que estará sujeito, se se debruçar na poesia. Se em última instância, não deve mesmo guardar para si os escritos, ou os destruir.

Há uma profunda necessidade de ética e honestidade intelectual, antes de algum acolhimento dos ditos poetas e críticos portugueses. Considera mesmo haver poucos poetas de nomeada em Portugal, sendo um amante da poesia pela língua portuguesa, tendo bebido da influência na poesia do mundo, dos autores que leu/traduziu, para traduzir a sua própria escrita para português, escrevendo como sentia sem edição.