Opinião

Letras | Antologia de Poesia Erótica, Bocage

29 nov 2024 08:25

Tem relevância pela frescura que a sua escrita ainda mantém, conhecendo-se obra sua desde meados do séc. XVIII. A sua obra com liberdade do ser e da expressão, demonstrava clara e esteticamente (senão obscena e pornograficamente) toda a vida nas relações e intimidade

Este é o conjunto elaborado de diversas edições da poesia de Bocage, tendo sido organizada por Fernando Pinto do Amaral, professor do Departamento de Literaturas Românicas da Faculdade de Letras de Lisboa, poeta e tradutor. O livro assenta o interesse maior sobre a escrita erótica e amorosa do poeta, não almejando expandir-se além deste quadrante, para a vastidão da obra de Bocage.

Tem relevância pela frescura que a sua escrita ainda mantém, conhecendo-se obra sua desde meados do séc. XVIII. A sua obra com liberdade do ser e da expressão, demonstrava clara e esteticamente (senão obscena e pornograficamente) toda a vida nas relações e intimidade. Vivia-se o fim da Inquisição e surgimento do Iluminismo. Advogava a liberdade do prazer como libertação para a felicidade, contra a hipocrisia reinante, sobretudo dos frades.

Bocage foi libertino, boémio e amante, mas também lutou contra a imensidão dos sentimentos negros, o ciúme, a hipocrisia, a morte... o fim sem redenção nem eternidade. A perda da mãe em criança terá provocado em si esses demónios (os que mais acreditava) já que não acreditava nem no céu nem no inferno, tendo granjeado inimizades na igreja católica e junto de alguns dos seus mestres. Teve educação eclesiástica e vindo de famílias proeminentes, também teve a poesia desde cedo (a sua avó, Mme. du Bocage, fora uma poeta reconhecida em França).

Escreveu também por amor, pelo fogo do que a felicidade poderia valer para além da boémia e da aventura. Escreveu odes, canções, epístolas, elegias e sonetos. Neste livro temos dos mais belos e picantes sonetos. Temos poesia no feminino, na liberdade e no amor acima de tudo.

Aos dois amantes
De Abido e Sesto
Ardor funesto
Deu negro sem fim.
Foram-lhe algozes
Os seus extremos;
Mortais, amemos,
Mas não assim