Opinião
Leiria
Quatro mil quilómetros a construir memórias e a plantar saudades. A refazer planos ao momento, a descobrir o que sempre existiu mas ainda não se conhecia
As férias foram grandes. Como há muito não eram. Estupendas. Quatro mil quilómetros, sempre por estradas sem portagens.
De Barcelona a Cabo de Gata. De Cabo de Gata a Cádiz. De Cádiz a Olhão. De Olhão a Leiria. De Leiria a Madrid. De Madrid a Barcelona.
Quatro mil quilómetros a construir memórias e a plantar saudades. A refazer planos ao momento, a descobrir o que sempre existiu mas ainda não se conhecia.
As tortillitas de camarão na Andaluzia. O Algarve de cortar a respiração da Ria Formosa e o peixe e marisco olhanense, que nos obrigaram a ficar oito dias em vez dos três previstos.
Os dias largos e quentes. Os reencontros com a família e os melhores amigos de toda a vida, à volta de tachadas e vinho branco gelado.
Depois de tudo, as férias foram grandes. Como há muito não eram. Fantásticas.
E quase no final, já naquela fase descendente em que o regresso ao trabalho está ao virar da esquina, uma última surpresa: Leiria.
Chegámos a Leiria um dia antes de ter de voltar a ligar o computador. Uma segunda-feira, porque pensei que, para além da “soft landing” proporcionada pela possibilidade de trabalhar remotamente a partir de Portugal antes do regresso a Barcelona, se começasse numa terça custaria menos.
Descarregámos o carro em casa da minha mãe - que isto de andar quase três semanas em modo camping tem a sua logística -, fomos directos ao Pedrógão (sol, neblina dispersa e vento gelado em pleno Agosto. Clássico!) e depois subimos de elevador ao castelo.
Tudo excelente, tirando a medonha música sertaneja do ascensor e a demora para comprar as entradas. Nada que não possa e deva ser melhorado.
Cá em baixo, ao longo dos restantes dias da semana, fomos sendo surpreendidos por uma cidade diferente daquela em que tinha estado pela última vez há quase dois anos.
Mais limpa e ordenada, mais viva - apesar de ser Agosto -, com gente nas ruas e nos restaurantes, com um museu que vale a pena visitar, com um ambiente que reflecte muito do que as entidades culturais vão semeando ao longo do ano.
Uma Leiria de ares contemporâneos, mais aberta e mais feliz… apesar de tudo. E isto em Agosto e sem Entremuralhas.
Há muito que não me sentia tão bem na minha terra. Há muito que não acreditava no potencial da minha cidade.
Espero que não tenha sido só porque as férias foram grandes. Como há muito não eram. Maravilhosas.