Opinião
“Fratelli Tutti”
Esta globalização tem sido eficaz para o crescimento económico com inegáveis progressos na tecnologia, na medicina, na indústria e no bem-estar em geral, mas não no desenvolvimento integral do ser humano.
Fratelli Tutti” é o nome da nova Carta Encíclica do Papa Francisco dedicada ao tema da f raternidade e da amizade social.
Apesar de ser católico não me movem quaisquer objectivos de evangelização na elaboração deste texto, naturalmente, mas apenas aproveitar a oportunidade para partilhar com os leitores uma breve reflexão sobre alguns aspectos económicos e sociais das nossa sociedade actual e que, aliás, têm vindo a ser debatidos por muitos especialistas em temas económicos e sociais e fonte de debate político entre as várias correntes ideológicas sobre o futuro do tipo de capitalismo actualmente dominante, o qual gerou sociedades de desigualdade social, concentrando progressivamente a riqueza num número ridiculamente reduzido de privilegiados em desfavor de um grupo crescente de excluídos e da perda relativa de rendimentos da chamada classe média.
A globalização, que gerou um crescimento económico inegável desde a II Grande Guerra Mundial, foi sobretudo apropriada pelos interesses económicos e financeiros permitindo-lhes investir em qualquer país e movimentar capitais livremente, mas frequentemente sem preoc upações com o bem comum dos países onde investem e das suas populações, as quais ficam reduzidas a meros consumidores ou espectadores, e tentando impor um modelo cultural único a nível global.
Esta globalização tem sido eficaz para o crescimento económico com inegáveis progressos na tecnologia, na medicina, na indústria e no bem-estar em geral, mas não no desenvolvimento integral do ser humano.
Como escreve Francisco, “o avanço deste globalismo favorece normalmente a identidade dos mais fortes que se protegem a si mesmos, mas procura dissolver as identidades das regiões mais frágeis e pobres, tornando-as mais vulneráveis e dependentes.
Desta forma, a política torna-se cada vez mais frágil perante os poderes económicos transnacionais que aplicam o lema ‘divide e reinarás’”.
Com isto não quero dizer que sou contra a globalização, pelo contrário, ou que simpatizo com as ideologias que defendem o nacionalismo, o proteccionismo e o populismo que considero uma ameaça para a sociedade, para a democracia, para o pensamento livre e para o respeito pelas diferenças entre comunidades.
Essas ideologias terminam por defender atitudes abjectas como o racismo, a rejeição da igualdade de género e a repressão de quem persiste em ser diferente mantendo a sua identidade.
No entanto, o conceito de democracia tal como o conhecemos, sobretudo no mundo ocidental, está desvirtuado e em crise crescente na medida em que, e citando Francisco, “a política deixou de ser um debate saudável sobre projetos a longo prazo para o desenvolvimento de todos e o bem comum, limitando-se a receitas efémeras de marketing cujo recurso mais eficaz está na destruição do outro”.