Opinião
Etiquetas, tomate cherry e a falência do sistema
Cabe-nos a nós, nas nossas vidas desocupadas, estar a par de tudo o que se passa no mundo, de cada vez que vamos ao super mercado comprar tomate cherry!
Como alguém que passa muito tempo a pensar como posso, nos meus pequenos, minúsculos, ínfimos actos individuais, mudar o que há de errado à minha volta (no mundo, vá!), não devia ter ficado tão desconcertada quando li aí pela praça alguém a dizer que “as pessoas são contra as estufas (...) mas depois querem comer tomate cherry”.
É, de facto, espantoso, que, com tanta informação à disposição, o consumidor comum ainda tenha a lata de se indignar, e não saber escolher qual é o produto livre de escravatura, quando vai ao supermercado!
Eu, por exemplo, sei que se quiser um produto produzido em MPB (se não sabe o que é, caro consumidor, tenha vergonha e informe-se!), tenho de procurar a etiqueta da folha-estrelinhas de fundo verde.
Se quiser comer chocolate ou beber café sem remorsos sociais e ambientais, tenho de procurar a rãzinha e as letras UTZ na embalagem, para ter a certeza que é produzido respeitando as florestas e as vidas dos produtores, nos países lá longe.
Sei que se quiser papel e outros derivados, tenho de comprar as resmas com o selo da árvore FSC, e fica logo tudo bem!
Como sei que há lugares horríveis no mundo que exploram pequenos produtores, também costumo procurar pelo bonequinho da FairTrade, que me indica que naquele esquema, toda a gente tem um ordenado digno no final do mês.
Para tentar comprar em circuito curto, numa atitude ambientalmente sustentável (e patriótica), devo ir ao mercado local, e o que não houver lá compro onde se venda com a etiqueta da bandeira nacional!
As marcas de roupa, nesse mundo do consumo responsável que é a moda, também já têm as suas linhas de algodão orgânico, e poliéster reciclado.
Se for mesmo uma consumidora responsável hard core, já me deixei de embalagens de plástico e compro tudo a granel, em segunda mão, ou reciclado!
É verdade que às vezes umas etiquetas não casam com as outras, e o algodão orgânico não é FairTrade, porque… enfim, não se pode ter tudo, não é?
E o que é nacional às vezes não é assim tão bom, porque vem de estufas de trabalho duvidoso, ou de indústrias que poluem o nosso rio… Mas o que interessa é tentar! E conhecer todas as etiquetas!
Cabe-nos a nós, nas nossas vidas desocupadas, estar a par de tudo o que se passa no mundo, de cada vez que vamos ao super mercado comprar tomate cherry!
Achavam que era como? Através da lei, de estados reguladores, da decência e da ética? Acordem!