Opinião
“Estado da Nação”?
A situação presente também evidencia um maior número de óbitos em Portugal do que a generalidade da União Europeia
Meu Caro Zé,
Esta semana ocorreu um inenarrável debate (?) sobre o “Estado da Nação” que é mister não esquecer, por um lado, pela confusão de conceitos que tem de ser desfeita e, por outro, pelo que sobretudo se não discutiu e era essencial.
Para esclarecimento dos conceitos socorro-me da Enciclopédia Britânica (as traduções são minhas). Aí se define “Nação”, na tradição grega, com “população de uma área fixa que partilha em comum língua, cultura e história” e “Estado” como “organização política da sociedade, ou corpo político, ou, mais estritamente (o sublinhado é meu) as instituições do governo”.
Ora o que se passou pouco teve a ver com a “Nação” e tudo a ver com o governo atual que, cada vez mais, se procura confundir com o Estado, ao mesmo tempo que tenta esquecer o que é fracasso ou desconforto e releva sucessos avulsos (que também os há), bem acompanhados por anúncios de futuros “feitos”.
E isto leva-nos à referência do que de essencial se não discutiu nesse alegado debate.
É que o estado (situação) da Nação não se deve limitar à espuma do imediatismo, aliás, configurado por uma informação truncada, ou mesmo travestida em propaganda, antes implicando um olhar que integre, pelo menos, todo o passado recente.
E é aí que não podem ser ignoradas as graves responsabilidades (que não são sucessos) do atual governo no campo do ataque à pandemia e consequências sobre a situação económica e social, a par da sanitária.
E nesta, para além do que já referi na carta anterior sobre o esconder do papel nefasto das festas do Sporting, ainda por cima, na altura em que a variância Delta aparecia em força, há que relembrar o início do ano 2021.
Aí, a obsessão ideológica, subsequente a duas decisões imediatas de facilitismo, produziu uma situação cujos efeitos acumulados ainda hoje se sentem, de tal modo que já temos uma taxa de mortalidade que é muito superior à média da União Europeia.
Acresce que a situação presente também evidencia um maior número de óbitos em Portugal do que a generalidade da União Europeia, ao mesmo tempo que cresce a pressão sobre os cuidados intensivos.
Vale a pena lembrar que o número de óbitos ocorridos em Portugal entre 1 de janeiro e 15 de fevereiro de 2021 representa quase metade (48,8%) de todos os óbitos por Covid-19 durante toda a pandemia, bem para além do peso do número de infeções no período relevante.
Se a isto adicionarmos o fracasso do lançamento da campanha de vacinação, felizmente ultrapassado, por se ter mudado a “agulha”, vale a pena chamar a atenção do primeiro ministro, para que não se ufane da sua política.
Não confunda os dinheiros da bazuca, que são da Nação e não do governo, ao contrário do que se parece verificar no modo como, confundindo a presidência do governo com a de secretário-geral de um partido, usa esse dinheiro para uma campanha eleitoral.
Mas essa relação entre o PRR e o seu uso fica para a próxima.
Até sempre.
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990