Opinião
É péssimo?
Numa época de crises sobrepostas, quem deveria gerar opções deixou de o fazer
O pessimismo tomou conta da sociedade? Talvez.
Ouvi há uns dias uma palestra de Geoff Mulgan e ele acha que sim.
Deu até como exemplo, nas novas gerações, a jovem Greta, e daí até aos pais desta geração e a crença de que o futuro dos filhos será pior que o seu.
Foi exactamente assim que terminei a minha crónica anterior, a dizer que uma medida do progresso seria ver os filhos melhor do que a geração que a antecede.
Como é que nos deixamos tornar tão pessimistas? Será que somos?
Ou, como costumo dizer de mim própria, uma realista bem informada pode passar por pessimista?
Fui à procura desse tema através de um dos livros do professor.
Essa busca não me trouxe respostas, mas muitas boas perguntas e muito boas ideias. Com isso, talvez ajude.
Diz ele que as pessoas ficaram irrealistas ao ponto de acharem que nada poderá melhorar, que essa é uma ideia espalhada na sociedade, mesmo que de forma abstracta.
Tal como outras ideias, há conceitos que passam para a sociedade de forma ampla, como os ideais dos direitos humanos ou da economia circular.
É por isso, um conceito que se espalha e cola…
Numa época de crises sobrepostas, quem deveria gerar opções deixou de o fazer.
Temos a crise do clima, das finanças (da crise de 2009 ainda ninguém recuperou e já aqui estamos em crise novamente…), temos a crise da alimentação, dos refugiados, os salários estagnados, da pandemia, da inflação… ok, não melhoramos em optimismo ao perceber este panorama.
Adiante.
Então e quem deveria gerar opções? Desde logo os políticos, que deixaram de pensar a 20/30 anos à frente, mas quedaram-se em horizontes e tácticas a dois/três anos.
Não ajuda de facto. O tempo encolheu, se somarmos isto à velocidade com que vivemos…
Depois, as universidades. Deixaram de desenhar opções. Fazem análises.
As pessoas sentem as ameaças à carreira e por isso acomodaram-se aos estudos e diagnósticos.
E por fim, a filantropia, que também deixou de o fazer para sua protecção, por ataque do poder político.
Temos então o diagnóstico feito. Resta-nos saber a prescrição.
Futuro sempre. E para isso são precisas boas ideias e respostas criativas. Não há outra forma, diz.
Novos métodos, por exemplo sobre políticas sociais, e que têm que ser experimentados.
São créditos fiscais? Salários? Categorias? Rendimentos universais e incondicionais? Alguma coisa tinha que ser feita.
Na pandemia percebemos o que eram os trabalhos “essenciais”, mas curiosamente muitos desses são os mais precários, de salários mais baixos e representam uma percentagem muito pequena na sociedade.
Ficamos na mesma? Não vamos mudar essa importância e reconhecer socialmente isso?
Como não ficar pessimista se assim for?
É muito difícil fazer shift´s económicos de um dia para o outro, sobretudo em sociedades com democracias consolidadas, mas, sabendo que vão demorar, temos que o fazer.
Não agir não é opção.
É preciso imaginação na política, nas artes, na ciência, educação, imaginar uma melhor sociedade com menos infelicidade, menos pobreza, menos violência, menos dano ecológico,… qual é o primeiro passo para acontecer?
Para já, é bom começar a falar disso.
O que, já de si, não é péssimo…