Opinião

É Natal. Nasçamos, portanto!

25 dez 2021 15:45

É tão bom no Natal sentirmo-nos, também nós, os mais velhos, a de novo nascer!

E eis mais um Natal! Tal como em criança, também neste Advento me preparei para o receber sentindo um misto de tristeza e alegria.

Por culpa da minha família, por vezes, quase anticlerical, mas assumidamente cristã, fui ensinada a só me permitir mergulhar na luminosidade mundana do Natal após refletir sobre as minhas incompletudes, enquanto pessoa cristã e desde então é mais ou menos assim que, nesta época, eu sempre me vou sentindo.

E se em criança do meu “exame de consciência” emergia a promessa de, por exemplo, não mais amuar quando contrariada, com o crescimento a coisa foi-se complicando!

Bastar-me-á ser assertiva, empática, justa e honesta com todos e sentir-me humilde, para ser um bom ser humano?

Chegar-me-á, para me sentir uma boa pessoa, afirmar que encontrei na alegria dos outros e por eles fabricada, a minha própria alegria? Claro que não!

Sem a capacidade para mergulhar na miséria e no sofrimento humanos, próximos ou distantes, e de lá pôr as mãos à obra, para que esses males acabem ou pelo menos não doam tanto, continuarei a sentir a tristeza de não ser uma boa pessoa!

Ora, identificada a fonte da minha tristeza, é chegada a altura de prometer como a vou combater.

Confesso que ainda hoje sinto, como me acontecia em criança, que a chegada do Ano Novo, tão próxima destas minhas reflexões natalícias, me dá muito jeito!

Em criança prometia que nele eu iria prescindir dos meus amuos, hoje dou comigo a prometer que irei dedicar o meu envelhecimento ativo em prol de uma vida melhor para os outros!

E agora sim! Feito o “exame de consciência” hoje, como no passado, sinto-me pronta para me misturar com a alegria do Natal.

Na minha infância essa alegria crescia na certeza de, nos próximos dias, ter prendas no sapatinho, de ir recolher o musgo necessário para construir o presépio, de ter a família reunida na consoada, de poder saborear o cacau quente depois da meia-noite e de me deleitar com o recheio do cabrito e com os bolos e sobremesas do jantar de Natal.

E, curiosamente, sabem que mais? Hoje (retirando, claro, a certeza que habitava esse meu cenário infantil), sinto que posso continuar a viver essa mesma alegria.

Sim, basta-me, uma vez mais, pôr também aqui as mãos à obra e ser agora eu a sua construtora! Confesso que esta minha descoberta acrescentou ao meu Natal um novo encantamento.

À alegria de hoje me poder continuar a sentir feliz com o que outrora me provocava esse sentimento vem juntar-se a felicidade de eu ainda querer e poder pôr as minhas “mãos à obra” nessa alegre, bonita e tão necessária construção!

E digo-vos, acreditem em mim: é tão bom no Natal sentirmo-nos, também nós, os mais velhos, a de novo nascer!

 

Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990