Opinião
Discos de Verão para o Outono
Muito provavelmente não vou chegar a Dezembro com uma lista de 50 discos imprescindíveis
Já por aqui o disse, mas vale sempre a pena repetir: 2023 está a ser um ano de muito boa colheita musical. Muito provavelmente não vou chegar a Dezembro com uma lista de 50 discos imprescindíveis, mas, garantidamente, acabo a época estival com mais uma mão cheia de coisas frescas e fofas, que andam em escuta compulsiva.
Como tal, sem mais delongas e floreados, que vocês de tempo vão escassos e de paciência carecidos, saquem do bloco de notas e acrescentem estas três maravilhas às vossas vidas.
Dos holandeses Lewsberg, disse em 2019 a publicação britânica NME que “são a resposta de Roterdão aos Velvet Underground”. E, se é verdade que a descendência é manifesta e assumida, não é menos óbvio que, dos Galaxie 500, aos Yo la Tengo ou aos Young Marble Giants, esta rapaziada, carrega com orgulho a tocha olímpica de uma certa tradição de construção de canções superlativas, pujantes e desafiantes, ainda que despidas de grandes artifícios.
Económicas na sua simplicidade, poderíamos inclusivamente dizer, mas carregadinhas de emoção até ao tutano. “Out and About” é o quarto disco, acaba de sair e o último a ouvi-lo é um ovo podre. Dia 16 de Dezembro vejo-os ao vivo por terras catalãs, portanto... roam-se de inveja.
Economia e simplicidade são coisas que as britânicas Girl Ray resolveram deixar em casa para criarem aquele que é o seu terceiro tomo, “Prestige”. O bichinho da dança esteve sempre presente na indie pop deste trio londrino, mas, desta vez, a coisa assume contornos de festão. New Wave, funk, soul, ancas a abanar e um conjunto de canções que prometem prolongar o Verão até bem depois do Natal.
E, por falar em prolongar o Verão, nada melhor que mergulhar de cabeça no fenomenal e estranho objecto que é “Slow Love”, dos não menos fenomenais e surpreendentemente elusivos, “World Atlas”. Claramente alunos de 5 da escola indie pop orquestral que os Belle and Sebastian desenvolveram ao longo dos últimos quase 30 anos, este septeto de Brooklyn acaba de editar uma colecção de pérolas capazes de encher as medidas a qualquer fã dos escoceses.
Parece que o disco demorou vários anos a ser gravado e não se percebe bem se a banda ainda existe ou não, mas, caramba, seja como for, este já ninguém nos tira e dá para o Verão, para o Outono, para o Inverno e para a Primavera... ou daria, se ainda tivéssemos quatro estações.