Opinião
Design e tradição
A tradição constitui a matriz da cultura
Existe na contemplação do passado, das suas vivências e costumes, a apaziguadora noção de que a história percorreu um caminho que nos trouxe até hoje.
Saber por que é que aqui estamos é entender os factos e figuras, territórios e movimentos sociais, que pavimentaram a estrada do percurso.
Ver neles um fundamento para uma acção, seja ela de crítica, criadora ou meramente contemplativa, é uma homenagem à sua memória com vista à construção do seu presente.
Nas artes e ofícios tradicionais podemos encontrar reminiscências de um passado rural, que nos lembra de como a vida quotidiana evoluiu entre gerações.
Apesar da miséria da sobrevivência associada a estas práticas oficinais existem aí pistas para uma vida de produção e consumo mais sustentável. O desafio está em transferir os conhecimentos actuais para práticas tradicionais.
Por um lado, a tradição constitui a matriz da cultura, firma uma ideia de continuidade que alicerça a sociedade, nos eventos sociais ou na família, entre outros.
É algo que não sofreu alteração sendo por isso considerado autêntico. Podendo inclusive ser descrito, ou interpretado como memória cristalizada.
Por outro lado, nos processos de criação e desenvolvimento de identidade, de um território e/ou de um ofício, nos quais o design de produto intervém, há a necessidade de apresentar algo novo, como forma de aumentar vendas/públicos.
Nestas semanas estarei em Viana do Alentejo a conduzir duas residências de criação com designers, ilustradores, oleiros e pintoras, com vista ao desenvolvimento de novas formas e linguagens gráficas para a olaria tradicional.
É da troca de saberes entre ofícios, o dos ilustradores e pintoras, e o de projectistas, os designers e ceramistas e os oleiros, mas também entre lugares e vivências que cada um experiencia, que surge a novidade, num momento calmo de criação conjunta.
Trata-se, ora não estivéssemos no Alentejo, de criar com vagar.