Opinião

Desconsiderar por aí

27 mai 2023 16:21

Pessoalmente, não me interessa puto o que o ministro diz, mas é ele quem assina os cheques

Regressado dos EUA, de uma digressão que é sempre um banho de realidade para quem as faz, mal pouso as malas e já estou a ler as declarações infames de Pedro Adão Silva, ministro da Cultura, que continua a linhagem de executivos de vistas curtas.

A maior parte do dinheiro que se distribui no negócio da música em Portugal é institucional, isto é, depende, de alguma forma, do Estado. Num mercado tão pequeno é difícil a um privado ter lucro e, por muitas voltas que dêmos, vamos, quase sempre, parar ao mesmo sítio.

É uma economia circular feita de apoios, impostos e isenções. Ora se assim é, devíamos estar todos em pé de igualdade mas não estamos. Longe disso.

A frase do ministro - “É uma linguagem que se tornou numa espécie de língua franca, hoje temos brancos a cantar em crioulo. E se há algo que possa ser internacionalizado a partir de Portugal é isso” - ao jornal Observador, é demonstrativa de um evidente favoritismo por uma expressão musical (o hip hop e o afro qualquer coisa), entre todas as outras que constituem a cultura musical de Portugal, mas que por razões do âmbito do politicamente correcto, não estão no radar do ministro fã de Smiths, que faz playlists no Spotify, mas que nada sabe, nem quer saber, do que se passa na música do seu País.

Pessoalmente, não me interessa puto o que o ministro diz, mas é ele quem assina os cheques. Nos últimos 3 meses, sem cantar em crioulo e sem forçar o “africanismo” da nossa música (que simplesmente, e com todo o respeito, não existe) fizemos com os Moonspell mais de 50 datas em cerca de 20 países.

Se chegar a hora do Governo apostar na tal “internacionalização” nós e tantos outros, vamos sacar a palha mais curta. As alternativas à música nacional, mortas por decreto.

E o que temos? Uma cena onde toda a gente repete o discurso, onde os mesmos de sempre dançam ao som do mesmo batuque, com o alto patrocínio de políticos que desprezam toda a música que não se adequa aos cânones da tal Lisboa mulata, mãe penitente, que se quer livrar, por vergonha e pudor, de tudo quanto não seja conforme à nova realidade.

Se esta é a bandeira portuguesa, não, não a queremos carregar. Muito obrigado, mas podem ficar com ela