Opinião
Das galinhas a Benjamin Netanyahue
No mundo dos vivos há animais que são pessoas, mas para mim, neste grupo de pessoas, há as que se comportam como se fossem só animais
Tenho o privilégio de viver no campo e por isso da minha janela de observação passei a poder ver, sem ser só nos livros, o comportamento de muitos seres vivos na sua luta diária pela sobrevivência.
Como nunca tinha lido nada sobre as galinhas, elas surpreenderam-me. Passeiam-se umas com as outras em paz pelo campo, são capazes de se mostrarem extraordinariamente meigas com quem lhes fornece alimento, mas tudo muda quando entram em competição pela ração que lhes é fornecida no comedor.
Aí transformam-se completamente. As mais antigas manifestam o seu direito exclusivo àquele território, que afinal é de todas, e com bicadas violentas e cacarejos agressivos afastam as que chegaram mais tarde ao galinheiro.
E estava eu a pensar nestes comportamentos e em como hei de fazer para moderar este instinto agressivo das minhas galinhas, quando vejo nas folhas de um jornal a fotografia de Benjamin Netanyahue.
E dei comigo a tirar uma conclusão: no mundo dos vivos há animais que são pessoas, mas para mim, neste grupo de pessoas, há as que se comportam como se fossem só animais.
Numa briga entre animais (cães, por exemplo) o mais fraco, ao colocar o pescoço à disposição de uma dentada do mais forte, geralmente, contribui para que a luta termine.
Já nos humanos esta técnica não resulta e os mais fortes ficam indiferentes às manifestações de medo das suas vítimas.
Ora, como pressinto que para terminar o conflito entre Israel e a Palestina é o pescoço dos palestinos, colocado à mercê de uma sua dentada, que Benjamin Netanyahu deseja, vejo nele um animal.
Por outro lado, comporta-se como se fosse o líder de uma superfamília de ratos onde, como se sabe, o reconhecimento de quem pertence à família não é individual, mas tribal.
Só quem se comportar como os ratos da tribo é aceite e é com extrema agressividade e violência que tudo fazem para afastarem ou até exterminarem os outros.
E Benjamin Netanyahu não se fica por aqui! Também se comporta como um animal irracional quando simplesmente não é capaz de disfarçar a sua intenção de estar sempre pronto para agredir.
Usa a lei do mais forte na defesa do território que vai retirando aos donos e com recurso ao seu sofisticado armamento, manifesta a sua animalidade.
Por outro lado, mesmo se avaliar o comportamento de Benjamin Netanyahue com recurso aos ensinamentos dos críticos de Konrad Lorenz observo neste israelita uma incapacidade total para governar as suas emoções, para conseguir garantir que o seu instinto de agressividade permaneça num nível humanamente tolerável.
E também de nada lhe serviu andar nas escolas que frequentou.
Não quis aprender coisas tão simples como perceber que fortalece os terroristas do Hamas quando palestinos inocentes se sentem tratados injustamente, quando se sentem vítimas de apartheid, de roubo das suas casas e terras, quando são amputados da sua dignidade, quando sendo o mais forte se mostra incapaz de esculpir uma forma de paz na matéria bruta de que é feita a incompatibilidade dos objetivos dos beligerantes.
Mas voltando às minhas galinhas, ando a pensar numa estratégia para moderar o seu instinto agressivo: vou comprar mais galinhas para que as que se sentem donas ancestrais do território se passem a sentir não tão poderosas.
Se calhar em Israel também resultaria trazer mais votos para a oposição a Benjamin Netanyahue…
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990