Opinião

Das espécies

28 jan 2022 15:45

 Não é apenas nas mudanças tecnológicas que o mundo parece um vulcão

Estamos num mundo em ebulição. Temos os nossos padrões de sociedade em transformação, como um todo, sejamos mais ou menos adaptativos.

Bom ou mau, não existe, pois haverá de tudo na vida de todos.

Aqueles que, como eu, começaram a vida num mundo de dois canais numa TV a preto e branco e com fecho de emissão, conseguem pontos de comparação que oscilam entre o humor e o ridículo.

Dá-me prazer perceber a “evolução” desta espécie maravilhosa que somos. E tem havido muitas em pouco tempo.

Já temos smart tê-vê com 500 canais, os telefones também smart, os táxis tipo uber, aceitamos comida chegada de mota aos tombos numa mochila se for encomendada numa App, e os carros bons são aqueles que nos ensinam a conduzir.

Toda a nossa vida pode ser diferente desde que tenhamos rede ilimitada no centro de uma cidade.

Não é apenas nas mudanças tecnológicas que o mundo parece um vulcão.

Hábitos de trabalho levaram um rombo com a pandemia, trazendo o tema do teletrabalho a patamares de discussão como nunca. Bons e maus.

Desde a revolução industrial que não tínhamos mudanças de paradigma tão grandes, como aquelas que nos prometem a discussão da semana de quatro dias de trabalho ou os modelos económicos que ainda não temos.

Não sei como irá evoluir a coisa, mas a discussão vale a pena.

Encontro exemplos em todas as áreas da nossa vida. Leio (hoje) que as personagens dos M&M´s vão ficar mais inclusivas nos próximos anúncios da marca… eu nem sequer sabia que as bolinhas de chocolate tinham género, quanto mais “personalidade”… isto também começa a roçar o imbecil.

A aceitação da diferença e a construção de um mundo com respeito por todos está a melhorar o mundo ou a substituí-lo?

Acompanho com prudência o tema até porque aparenta haver o regresso de uma nova “santa inquisição” para quem não se pautar pelas novas normas…

Um nó górdio de posicionamentos a quem não aceitar ficar polarizado e se ficar “apenas” pelo respeito por pessoas.

Haverá novos (e muito mais) excluídos nos extremos da discussão. E com isso estaremos a deixar destruir muitos dos valores com que o mundo chegou até aqui, das nossas relações enquanto sociedade.

Milhares de anos de conhecimento consolidado que permitiram a nossa evolução.

Era assim na ciência, mas começa a ser tratada como “opinião” e não há nada pior.

Basta passar os olhos pelas redes “sociais”. A percepção de um qualquer indivíduo sobre os temas começa a ter mais valor do que os “factos” apenas pelo número de doidinhos que o apoie.

E quem não “concordar” em regime “sim ou não”, pode ver-se arremessado pela tal turba. Os temas variam. O ódio que se manifesta é o mesmo. Da tecnologia aos hábitos de vida.

Isto sim devia mover-nos a todos, às pessoas, às empresas, às campanhas de marketing dos chocolates, às escolas e aos programas de televisão.

Menos “cenas” da onda e mais ciência com ética e fundamento nas decisões, na construção do futuro e dos novos mundos.

Não vale a pena extinguir um mundo para nos encaixarmos noutro pior.

Precisamos de saber arranjar espaços para todos. Darwin não conseguiria fazer regras aos dias de hoje.