Opinião

Contrariedades

9 jun 2016 00:00

Não há livros de instruções que nos digam o que fazer porque só nós, cada pai, é que sabemos a nossa “herança” e como a queremos passar ou até melhorar…

Ser criança não é fácil. É confuso, é assustador, é tudo novo e brilhante, mas às vezes dói, às vezes corta… Ser adulto e ter uma criança para educar também não é fácil. É confuso e assustador. Não há livros de instruções que nos digam o que fazer porque só nós, cada pai, é que sabemos a nossa “herança” e como a queremos passar ou até melhorar… Mas, até que ponto é que ele percebe o que lhe estou a tentar ensinar? Será que tem maturidade emocional para ver este simples filme de animação (nem sempre são assim tão simples)? Será que percebe a mensagem, a história, será que se emocionou (como eu) ou só está a fazer uma grande birra para não ir para a cama? Dúvidas, dúvidas, dúvidas.

A única certeza que tenho é que só daqui a muitos anos vamos saber se fizemos um bom trabalho, para já é um mundo de incerteza e contrariedades. Se não vejamos: queremos que os nossos filhos sejam criativos, usem e abusem da imaginação, inventem histórias para brincar, mas que nunca nos mintam; queremos que vivam alegres e despreocupados, mas que se preparem para o futuro e sejam conscientes das dificuldades; queremos que sejam curiosos, mas nunca intrometidos; queremos que se sintam sempre seguros, mas que saibam fugir se algum dia estiverem em perigo; queremos que tenham muitas experiências enriquecedoras, mas que não se percam no caminho; queremos que sejam amigos de todos os outros meninos, mas que se defendam quando não estejam a ser amigos deles; queremos dar-lhes todo o conforto, mas que eles percebam que nem todos têm acesso às mesmas regalias; queremos que sejam perfeitos, mas no fundo apenas normais, e amamos cada imperfeição que notamos neles, porque os torna únicos e mais nossos.

Não é fácil educar uma criança. Mas com estas directrizes contraditórias também não deve ser fácil crescer. Quero ensinar aos meus filhos que nem tudo é branco, nem tudo é preto, há muitos tons de cinzento pelo meio (50?) e todos são aceitáveis, todos existem, todos merecem uma oportunidade até provarem o contrário. Tolerância, resiliência, amor, naturalidade, solidariedade, equilíbrio e força interior. Acho que vou por aqui… se conseguir. Talvez no futuro o mundo fique um pouco melhor e eu tenha deixado o meu contributo.