Opinião

Cinema | Um olhar atento sobre um estranho mundo novo

14 mar 2025 08:11

Fica um convite: a partir de 1 de abril venham ver os filmes que preparámos para vos mostrar e ajudar a descodificar um pouco deste caótico quotidiano que se nos impõe, mesmo que queiramos fugir dele. E questionem, questionem-nos, questionem-se. É isso que nos move

Começo com uma declaração de intenções. Este mês irei tirar partido deste espaço para um descarado e desavergonhado exercício de auto-promoção e propaganda. Não, não é uma declaração política, descansai... mas inevitavelmente falarei um pouco de política, por motivos que, entretanto, se tornarão claros.

Aproximamo-nos de abril, e durante três meses, entre abril e junho, a ecO – Associação Cultural irá promover aquela que é a 14ª edição do HÁDOC – Cinema Documental em Leiria. São 13 anos consecutivos de uma iniciativa peculiar e pioneira, que nem uma pandemia de permeio impediu que se realizasse, apesar das limitações impostas ao normal desenrolar da vida. Peculiar porque, ainda que se auto-intitule festival, o HÁDOC é, na realidade, uma espécie de cineclube. Ao longo de três meses apresentamos (apenas) sete filmes, cuja seleção não obedece a regras nenhumas se não aquelas que a própria equipa de programadores se impõe.

Pelo segundo ano consecutivo e quem sabe o último – estas coisas são mesmo assim – iremos fazer anteceder a exibição de cada filme por uma curta documental, o que se encaixa num tipo de formato que faz recordar (pelo menos gostamos de acreditar nós) os primórdios do cinema, quando as salas se enchiam, como poucas vezes acontece agora, com público pasmado de novidade e perplexidade.

Quanto às longas-metragens, tentamos (e temos cumprido), por uma questão de tradição, começar com um documentário ligado ao mundo da música, o que acontece muito por hábito, mas também por impulso de auto-realização hedonista e despudorado prazer egoísta (algo a que a produção do HÁDOC cede frequentemente e sem desfaçatez). Daí em diante deixamos que seja o (des)equilíbrio entre o estado do mundo e a produção autoral a ditar o rumo que a programação do HÁDOC seguirá. A construção do cartaz deste ano foi definitivamente o resultado deste processo – a gestão desse (des)equilíbrio – e é nesta parte que entra a tal política a que me referia no primeiro parágrafo. As últimas oito décadas de relativa paz na Europa e o aparente dualismo entre oriente e ocidente, ou de (imaginárias) linhas de valores que pudessem ser associadas a esses eixos, parecem ter desmoronado, a reboque dos acontecimentos mais recentes: pandemia, invasão da Ucrânia, guerra israelo-palestiniana, reeleição de Trump; além das já não tão recentes disputas pelas terras raras, os efeitos das alterações climáticas e a polarização social potenciada pelo crescimento da tecnocracia. Os documentários que selecionámos para esta edição refletem um desnorteamento global e a visão dos autores dos filmes sobre estas temáticas. Será provavelmente das edições mais politizadas do HÁDOC, ainda que tenhamos deixado outros tantos filmes fora da seleção, que gostaríamos de poder apresentar e discutir com o público.

Fica um convite: a partir de 1 de abril venham ver os filmes que preparámos para vos mostrar e ajudar a descodificar um pouco deste caótico quotidiano que se nos impõe, mesmo que queiramos fugir dele. E questionem, questionem-nos, questionem-se. É isso que nos move.

Em breve, toda a informação em www.hadoc.pt | fb.com/hadocpt | instagram.com/hadocpt.