Opinião

Cinema | Um clássico para o Natal: Eduardo Mãos de Tesoura, de Tim Burton

13 dez 2024 08:52

É um filme que nos recorda que, por vezes, os corações mais calorosos batem nas pessoas que o mundo mais rejeita. Vale a pena que seja revisto. Vezes sem conta

Entretanto, começa a parecer que, de cada vez que escrevo esta coluna, em vez de dar a conhecer filmes novos e vibrantes, tenho sempre os olhos postos no passado. Sim, é facto. Foram poucas as vezes que falei de filmes que estavam no momento a passar nas salas. Possivelmente, porque não me identifico tanto com eles; ou porque não têm existido muitos que me tenham apaixonado nos últimos tempos, como o Sem Coração, da Nara Normande e do Tião, de que falei em Outubro. Portanto, para manter a tradição, esta semana tenho uma recomendação natalícia: um filme de inspiração gótica de 1990. O meu Eduardo Mãos de Tesoura, de Tim Burton.

Ora, e porquê esta escolha para o Natal? Bem, das muitas obras que associamos ao Natal, poucas capturam a essência da época de forma tão invulgar e tocante como o Eduardo Mãos de Tesoura. Embora não seja um filme natalício tradicional, a história do excêntrico Eduardo, interpretado magistralmente por Johnny Depp, revela uma metáfora poderosa sobre aceitação, bondade e o impacto transformador da diferença — temas que ressoam, profundamente, no espírito natalício.

A narrativa transporta-nos para um bairro suburbano padronizado, onde a chegada de Eduardo – uma criação inacabada de um inventor – desencadeia uma mistura de fascínio e rejeição. Eduardo, com mãos de tesoura em vez de dedos, simboliza tanto a capacidade criativa, como a impossibilidade de se encaixar num mundo que valoriza a uniformidade acima de tudo. Apesar da sua aparência assustadora, Eduardo é uma alma gentil que transforma arbustos, poodles e cabelos em obras de arte. No entanto, a sua bondade não é suficiente para o proteger da intolerância e do preconceito.

O Natal, no contexto do filme, não aparece apenas como pano de fundo. A época festiva acentua o contraste entre o calor aparente da comunidade e a solidão crescente de Eduardo, culminando numa das cenas mais memoráveis: a criação de flocos de neve, num momento poético que reflete a dor de quem ama sem ser amado e a beleza que pode surgir da vulnerabilidade.

Tim Burton, com a sua visão singular, transforma esta história num moderno “conto de fadas gótico”, repleto de empatia e melancolia. A banda sonora inesquecível de Danny Elfman sublinha a atmosfera mágica e emocional, tornando impossível não nos emocionarmos com a história de Eduardo.

Em época natalícia, Eduardo Mãos de Tesoura desafia-nos a refletir sobre alguns dos valores que celebramos, como a aceitação do outro, a generosidade sem julgamentos e a celebração das diferenças que nos tornam únicos. É um filme que nos recorda que, por vezes, os corações mais calorosos batem nas pessoas que o mundo mais rejeita. Vale a pena que seja revisto. Vezes sem conta.