Opinião
Cinema | Um clássico no Verão: Persona, de Ingmar Bergman
A obra sueca, carregada de simbolismo e introspeção, é uma profunda exploração da identidade e da filosofia humana
O final de junho já vem com cheiro a férias para muita gente. Para outros, a época estival parece que nos envia para um lugar de relaxamento. Provavelmente, fruto do poder do calor do sol. E, por isso mesmo, nestes próximos textos, trarei sugestões de filmes clássicos para enriquecer os dias quentes de junho, julho e agosto.
Começamos com Persona, de Ingmar Bergman, que é, nada mais que um dos filmes mais icónicos e complexos da história do cinema, lançado em 1966. A obra sueca, carregada de simbolismo e introspeção, é uma profunda exploração da identidade e da filosofia humana, com uma narrativa que gira em torno de duas personagens principais: Elisabet Vogler, uma atriz que, inexplicavelmente, deixa de falar, e Alma, a enfermeira encarregada do seu cuidado.
O filme começa com uma série de imagens abstratas, que parecem desconexas, mas que, gradualmente, começam a fazer sentido à medida que a história avança. Esta abertura é essencial para preparar o espectador para a natureza fragmentada e introspectiva do filme. Bergman utiliza esta sequência inicial para sugerir que o que estamos prestes a ver é tanto uma meditação sobre o cinema quanto uma história sobre personagens.
À medida que Alma e Elisabet se isolam numa casa de praia, as linhas entre as suas identidades começam a esbater-se. A decisão de Elisabet de permanecer em silêncio obriga Alma a preencher o vazio com as suas próprias palavras e pensamentos, revelando gradualmente as suas inseguranças e fragilidades. Este processo de transferência e fusão de identidades é brilhantemente capturado pela cinematografia de Sven Nykvist, com close-ups intensos e uma iluminação que acentua a intimidade e a tensão entre as duas mulheres.
Bergman, com a sua habitual maestria, utiliza o silêncio de Elisabet não apenas como um meio de comunicação, mas como uma forma de poder. Alma, que inicialmente se sente no controlo da situação, começa a perceber que a sua verborreia é uma máscara para os seus próprios medos e desejos não realizados. O silêncio de Elisabet torna-se um espelho no qual Alma é forçada a confrontar-se.
No fundo, Persona é uma obra-prima da ambiguidade. As perguntas levantadas pelo filme – sobre identidade, comunicação e a natureza da realidade – permanecem sem respostas claras, convidando-nos a uma reflexão contínua.
Persona pode ser visto na Amazon Prime, mas também está disponível para download gratuito no site Internet Archive.