Opinião

Cinema | Severance: três anos de espera

28 mar 2025 08:26

Cinematograficamente, Severance é uma obra-prima, e grande parte desse mérito vai para a diretora de fotografia Jessica Lee Gagné

Severance é uma daquelas raras séries que conseguem surpreender em todos os sentidos, desde a narrativa ao impacto visual. É fascinante ver Ben Stiller a navegar num território tão diferente do seu estilo habitual, mas mantendo ainda assim pequenos toques característicos. A série equilibra momentos de humor incómodo — o famoso cringe — com uma profundidade emocional inesperada, algo que Stiller parece manejar com uma segurança notável.

Cinematograficamente, Severance é uma obra-prima, e grande parte desse mérito vai para a diretora de fotografia Jessica Lee Gagné. Os 15 episódios da série estão carregados de um minimalismo visual que não só faz sentido no tom de humor peculiar da narrativa, mas também na criação de um ambiente claustrofóbico e surreal. O color grading é impecável, reforçando a estética retro-futurista do ambiente laboral da Lumon Industries.

As interpretações dos atores crescem ao longo da série, trazendo camadas de complexidade emocional que vão desde a alienação ao desespero puro. São momentos que provocam emoções intensas e, muitas vezes, trágicas, deixando o espectador sedento por mais. A série mantém uma tensão crescente e, mesmo quando cai em situações ligeiramente desconfortáveis, isso parece propositado, um reflexo da desconexão vivida pelos próprios personagens.

A banda sonora de Severance é hipnotizante, capaz de evocar memórias de grandes clássicos do cinema. A forma como é usada nos momentos-chave amplifica a atmosfera já carregada da série. O final da segunda temporada, em particular, mostra a liberdade criativa que a Apple TV deu aos criadores, algo que promete ainda mais no futuro.

Severance é, sem dúvida, uma das poucas séries recentes que conseguiu prender-me episódio a episódio. Mesmo o criticado episódio “Sweet Vitriol”, da segunda temporada, pareceu-me uma escolha arrojada, mas genial, deixando espaço para um desenvolvimento ainda mais intenso na terceira temporada.

No final, é uma série que nos faz questionar a vida, o trabalho e as nossas próprias escolhas — tudo envolto num thriller psicológico brilhantemente construído.