Opinião

Cinema | Os Prémios Sophia. A liberdade no Cinema

31 mai 2024 08:00

O cinema, enquanto expressão artística, tem um papel fundamental na sociedade: é através dele que nos confrontamos com diferentes perspetivas

No passado domingo, tive o privilégio de assistir, presencialmente, aos Prémios Sophia, organizados pela Academia de Cinema Portuguesa, no Casino Estoril. Uma noite que foi especialmente marcante, pois, para além de celebrar o melhor do cinema nacional, prestou uma homenagem à liberdade, num ano em que comemoramos o 50.º aniversário da Revolução de Abril. Uma revolução que, além de nos ter devolvido a democracia, é também um símbolo da liberdade de expressão e criação – valores que são a espinha dorsal do cinema e da arte em geral.

E, não vou falar dos vencedores, mas sim, daquilo que acabou por me marcar: desde os discursos emocionantes dos vencedores (tirando alguns mais atropelados, mas não seria uma boa entrega de prémios, se não existissem estas situações) até às reflexões dos apresentadores, todos sublinharam a importância de uma arte livre e desimpedida. O cinema, enquanto expressão artística, tem um papel fundamental na sociedade: é através dele que nos confrontamos com diferentes perspetivas, questionamos a realidade que nos rodeia e, por vezes, encontramos respostas para as nossas próprias inquietações.

A história ensina-nos que as sociedades que censuram a arte e a cultura acabam por sufocar a inovação e o pensamento crítico. O “lápis azul” da censura, que outrora pairou sobre a cultura portuguesa, é uma sombra que não podemos permitir que regresse. E, por isso mesmo, durante a cerimónia, foi comovente assistir ao tributo prestado a figuras históricas do cinema português, que lutaram e resistiram contra a repressão, utilizando o seu trabalho como forma de protesto e de expressão livre. Estes heróis da cultura lembram-nos que a liberdade conquistada há 50 anos não é um dado adquirido, mas sim um direito que devemos proteger e valorizar diariamente.

O impacto do 25 de Abril no cinema português foi inegável. A revolução abriu portas a uma nova era de criatividade e diversidade, permitindo que cineastas explorassem temas anteriormente proibidos e que expressassem as suas visões sem medo de represálias.

Mas a liberdade no cinema vai além da ausência de censura. Envolve também o apoio a novos talentos, a criação de oportunidades para todos e a garantia de que a diversidade de vozes e perspetivas seja valorizada. O cinema deve ser, assim, um espelho da sociedade em toda a sua complexidade, e para isso, é crucial que todos tenham a oportunidade de contar as suas histórias. Num mundo onde as ameaças à liberdade de expressão e censura são reais e constantes, o cinema surge como um bastião de resistência e de esperança. Os artistas têm o poder de mudar o mundo com as suas histórias, e os espectadores, têm o dever de apoiar e proteger a liberdade que nos/ lhes permite criar.

Viva o Cinema! Viva a Liberdade!