Opinião
Cinema | O Futuro Distópico em Metropolis, de Fritz Lang
A obra antecipa uma série de temas que ressoam com as questões do presente, sendo um reflexo impressionante de como a ficção científica pode projetar as inquietações sociais e políticas de qualquer época
Com o início do ano lectivo começam, também, as minhas aulas de Cinema. Nesta fase, costumo dar prioridade à história do Cinema e abordar os movimentos cinematográficos que já vivemos ou ainda estamos a viver. Muitas vezes, ficamos presos ao que Hollywood nos trouxe, mas o Cinema desenvolveu-se em todo o lado e cada país deu um bocadinho de si tornando esta uma disciplina, profundamente, rica.
E, só por causa das coisas, aproveito hoje, para abordar o Expressionismo Alemão neste cantinho. E, obviamente, que para isso tenho de falar do filme Metropolis, realizado por Fritz Lang em 1927 - baseado num romance de Thea von Harbou -, que continua a ser uma das obras mais impactantes e visionárias da história do cinema.
Ambientado num futuro distópico, Metropolis apresenta-nos uma sociedade profundamente dividida entre uma elite privilegiada, que vive numa cidade luxuosa, e uma classe trabalhadora oprimida, confinada a um submundo de fábricas. A obra antecipa uma série de temas que ressoam com as questões do presente, sendo um reflexo impressionante de como a ficção científica pode projetar as inquietações sociais e políticas de qualquer época.
No centro da narrativa, encontramos Freder, o filho do governante da cidade, que se apaixona por Maria, uma figura messiânica entre os trabalhadores. Este amor transforma-se no catalisador para a sua tomada de consciência das injustiças da sociedade. A luta entre classes é uma das metáforas mais fortes de Metropolis, um tema que, quase um século depois, continua a ser relevante. Num mundo onde a desigualdade económica e social se torna cada vez mais pronunciada, o filme torna-se uma reflexão pungente sobre as consequências da industrialização desumanizante e do capitalismo desenfreado.
Além da sua crítica social, Metropolis é também uma obra visualmente extraordinária. A monumental arquitetura da cidade e os efeitos especiais pioneiros criam uma atmosfera de grandeza e opressão. O filme antecipa, de forma impressionante, as paisagens urbanas futuristas que, posteriormente, influenciaram gerações de cineastas. A estética expressionista alemã, que Lang tão bem dominava, contribui para a criação de um ambiente surreal, onde a tecnologia se torna tanto uma promessa de progresso como uma ameaça à humanidade.
Fritz Lang oferece-nos um vislumbre de um futuro que, apesar de sombrio, ainda pode ser moldado, e o filme, mesmo após quase cem anos, continua a ser uma advertência e uma esperança de que, com o coração como guia, podemos construir um futuro mais justo e humano.