Opinião

Cinema | A melancolia de As Virgens Suicidas

15 nov 2024 08:57

Mais do que um filme sobre perda; é uma elegia àquilo que nunca se compreendeu, um grito mudo de juventude sufocada

Faço parte de um clube de leitura informal e online. Na discussão do livro de novembro, veio à mesa a sugestão de As Virgens Suicidas, de Jeffrey Eugenides. Sendo o filme homónimo e baseado nessa história, realizado por Sofia Coppola, em 1999, um dos meus preferidos; obviamente, que votei nessa sugestão. E, aqui estamos nós.

É que, este filme, mais do que uma narrativa convencional, é uma experiência sensorial que combina a nostalgia, o mistério e a tragédia de uma forma magistral. Em resumo, a obra explora a história das cinco irmãs Lisbon, envoltas numa aura de segredo, vistas através da lente dos rapazes que as observam com uma fascinação quase mítica.

Sofia Coppola demonstra uma sensibilidade rara, destacando-se pela sua abordagem estética e pelo uso da luz e do som para criar uma atmosfera quase etérea. A paleta de cores suaves, predominante em tons de dourado e pastel, em conjunto com a banda sonora melancólica dos Air, contribui para a construção de uma imagem onírica que se entrelaça com a dureza do tema: o suicídio adolescente.

O fascínio que as irmãs exercem é, simultaneamente, uma metáfora e uma crítica. Coppola captura o voyeurismo inerente à adolescência e a forma como o desejo e o mistério feminino são interpretados e, frequentemente, distorcidos pelo olhar masculino. Este olhar, no entanto, nunca penetra verdadeiramente o mundo das irmãs, sublinhando a impossibilidade de compreensão plena do seu sofrimento. Tal abordagem torna a história intemporal, explorando não só a adolescência e a transição para a vida adulta, mas também as barreiras que isolam os sentimentos e experiências de cada um.

Um dos aspetos mais notáveis da obra é a forma como a realizadora humaniza as irmãs, contrariando o risco de as reduzir a figuras meramente simbólicas. As cenas em que elas interagem entre si são retratos de uma intimidade genuína, que revelam pequenas nuances de alegria, rebeldia e vulnerabilidade.

As Virgens Suicidas é mais do que um filme sobre perda; é uma elegia àquilo que nunca se compreendeu, um grito mudo de juventude sufocada.

Imperdível, diria eu. Daqui a umas semanas, poderei responder se sinto o mesmo em relação ao livro. Ou se depois do livro, se sinto o mesmo em relação ao filme.