Editorial
Cereais à refeição
De pouco valerá o esforço das autarquias e dos estabelecimentos escolares se em casa não se der o exemplo
O alerta foi dado pelas cozinheiras e pelas empresas que fornecem as refeições escolares. Às segundas-feiras, cada vez mais alunos pediam para repetir a refeição, mesmo nos dias em que a ementa não era daquelas que mais agradava aos jovens. O Gabinete de Apoio às Refeições Escolares do Município de Leiria foi à procura de respostas para este fenómeno e chegou a uma triste e preocupante conclusão: muitos dos estudantes, sobretudo dos 10 aos 15 anos, são mal alimentados em casa ao fim-de-semana, ou saem de casa sem tomar o pequeno-almoço.
Da mesma forma que a educação é um direito fundamental, também a alimentação equilibrada se afigura como um dos elementos essenciais para garantir o desenvolvimento físico e intelectual dos alunos. Um estudante mal alimentado, pode apresentar dificuldades de concentração e falta de motivação pelas actividades escolares e, em consequência, piorar o desempenho académico. Por outro lado, a longo prazo, pode vir a sofrer problemas de saúde, tornando-se mais vulnerável ao risco de ansiedade, depressão e outros problemas emocionais.
Os motivos concretos desta fome pontual não estão ainda totalmente sustentados, mas pelos dados recolhidos junto de vários dirigentes, docentes e encarregados de educação, a crescente negligência manifestada no seio de algumas famílias estará relacionada com questões de carência económica, ou, pura e simplesmente, por preguiça em confeccionar refeições adequadas durante o fim-de-se-mana. Daí, alguns alunos terem revelado que apenas comiam cereais, especialmente ao domingo à noite.
Segundo estudos nacionais e internacionais, os hábitos alimentares inadequados, o índice de massa corporal elevado e a glicose plasmática em jejum aumentada, são alguns dos factores de risco com repercussões graves na qualidade de vida da população portuguesa.
A escola tem um papel fundamental na literacia em alimentação, em sensibilizar os alunos quer para a prática de actividade física, quer para a adopção de atitudes e comportamentos alimentares saudáveis, mas de pouco valerá o esforço das autarquias e dos estabelecimentos escolares se em casa não se der o exemplo.