Opinião
Cavalos
Não faço ideia de quem terá tido esta brilhante ideia, mas espero que lhe dêem o reconhecimento devido
Não é só a sensação crescente de as férias se volatilizarem a uma velocidade estonteante na poeira dos dias, ao ponto dos níveis mínimos de disposição para o trabalho se terem tornado uma miragem, mas também a nossa manifesta incapacidade de suspender radicalmente as relações laborais e fazer valer o nosso direito a habitar, por momentos, o micro paraíso do descanso, do fazer o que nos apetece, quando, onde e a que horas nos apetecer.
Não é só por existir uma disposiçãolegal, a Lei n.º 83/2021, de 6 de Dezembro, que regulamenta o direito à desconexão digital, é sobretudo porque os efeitos maléficos da permanente ligação aos problemas do quotidiano do nosso trabalho são cada vez mais estudados e compreendidos.
E, acrescente-se, nada restritos a grupos específicos quando consideramos que não são restritos ao trabalhador mas abarcam a qualidade do próprio serviço prestado a outros.
O governo islandês respondeu a este problema de forma genial ao iniciar, antes da grande época estival, uma campanha de divulgação turística com “Coisas para fazer na Islândia enquanto um cavalo responde aos teus e-mail”.
Os três cavalos escolhidos para desempenhar a tarefa passeiam por um teclado gigante montado no meio de uma planície.
Basta registar-se e eleger um dos cavalos.
As respostas, assistidas pelo sistema automático, são mais ou menos, assim: “X está de férias.
Enquanto isso, X, delegou a tarefa de redação do seu correio eletrónico a (nome do cavalo), um cavalo (…). Esta é a resposta ao seu e-mail:“ghetkv7r89jlghbx”. X, regressa no dia …”
O efeito desmotivador desta resposta é, sem surpresa, imensamente eficaz.
Não faço ideia de quem terá tido esta brilhante ideia, mas espero que lhe dêem o reconhecimento devido.
Porque nela estão condensadas muitas ideias interessantes, desde a valorização do descanso ao direito a não ser importunado ou como utilizar uma ideia divertida para fazer muito mais do que divertir.
Eu não tenho cavalos mas, tenho gatos.
E um deles, se continuar a treinar convenientemente, pode substituir-me por inteiro nas tarefas digitais um dia destes.
É um pensamento reconfortante.