Opinião

Bom gosto e imitações 

28 abr 2023 16:15

Poderemos nós incorporar estas tecnologias para aumentar os níveis de bom gosto naquilo que fazemos?

Há coisas que só podem ser respondidas com muitos olhares, dimensões e história. As actividades turísticas geram muito emprego no nosso País, com uma componente fundamental na nossa região, mas precisamos de começar a pensar em ter uma resposta num modelo com mais valor.

Há um grave problema em Portugal, que é a falta de gosto. Dou por mim a pensar nisso muitas vezes e até em situações em que participo: “isto não podia ser mais bonito? Mais apelativo?”

Moldar o gosto não é feito no imediato, ter atenção a detalhes de natureza estética, potenciar até um consumo mais sofisticado, são desideratos a qualquer estratégia que se preze no acolhimento turístico que fazemos. Ter produtos de natureza mais complexa originam soluções de maior valor acrescentado e consequentemente um maior valor económico.

A sofisticação é necessária também para competir neste mundo globalizado, seja fisicamente, mas também de forma distintiva na escala global digital. As gerações mais novas terão nas mãos ferramentas de potencialidades quase infinitas, mas terão dimensão, história e o olhar talhado para o conseguir?  

O historiador israelita Yuval Noah Harari dizia num artigo recente que a tecnologia de inteligência artificial é a primeira na história com a possibilidade de criar histórias.

As nossas convicções e crenças são fundadas em história comum, seja com a fé, a finança ou nações. Temos o Chat GPT e outros, a produzir textos com detalhes até aqui apenas ao alcance de muitos anos de escolaridade. O fotógrafo alemão Boris Eldagsen venceu o prémio Sony World 2023 e fez questão de o recusar pois revelou que a imagem tinha sido gerada por inteligência artificial. Quem deu pela diferença?

Aos dias de hoje torna-se muito difícil perceber o que é verdadeiro e o que é imitação, sendo que as modalidades passaram a ter a hipótese de fraude aumentada neste tal mundo “inteligente” por si mesmo.

Poderemos nós incorporar estas tecnologias para aumentar os níveis de bom gosto naquilo que fazemos? É possível aumentar o grau de sofisticação com recurso à tecnologia? E com isso incorporar ou não valor? Afinal o que é que se vai tornar Fake daqui em diante? A história contada por quem a fez ou inventada por uma máquina, tem mais ou menos potencial de valorização?

Olho para o turismo como comecei a crónica, a reforçar a necessitar de valor acrescentado e bom gosto, mas nem por isso me animo com as maquinetas a gerar histórias por nós, sem o olhar e a dimensão de quem quer proporcionar novos sentidos à existência. Sobretudo com bom gosto verdadeiro. Ainda vamos a tempo?...