Opinião
Bem sei que é “chover no molhado”!
Agora, e com toda a lógica, estarás a pensar que não tenho assunto e que ando para aqui a divagar, fruto da estranha confluência de um tal vírus com uma singular época natalícia.
Meu Caro Zé:
Deves estranhar o título desta conversa, porventura por duas razões: a primeira é o uso da expressão entre aspas que, com todo o rigor, significa que, em princípio, o que se diz nada acrescenta; a segunda por, legitimamente, estranhares que, se assim é, e eu o sei bem, eu ir escrever algo que se adequa ao título.
Começo pela segunda razão: é que sou teimoso e quando acredito em algo e não me foi apresentado qualquer contraditório suficiente, insisto em “fazer chover”, até porque o “chão muito molhado” se torna mais suave para a “chuva” que cai.
Quanto à primeira razão, que acaba por não ficar completamente desligada da anterior, é que há várias intensidades de “chuva” e vários tipos de “chão” que podem por em causa, e essa é sempre a minha esperança, o valor universal dessa expressão.
Agora, e com toda a lógica, estarás a pensar que não tenho assunto e que ando para aqui a divagar, fruto da estranha confluência de um tal vírus com uma singular época natalícia.
Mas como disse, como te lembras, o dr. Álvaro Cunhal ao dr. Mário Soares: “Olhe que não! Olhe que não!”.
É que todo este arrazoado me foi suscitado por uma frase do sr. primeiro Ministro de Portugal (votos de rápido desconfinamento, dr. António Costa), transcrita no jornal “Público” (14-12-2020): “Fundos europeus vão ajudar a cumprir o programa do Governo”.
Lembrei-me logo da nossa última conversa em que manifestei o meu profundo desagrado por ser o Serviço Nacional de Saúde a ter o privilégio da atenção do Governo e não a saúde dos portugueses.
Só que, agora, se repete a posição e, para mim, com duas agravantes.
A primeira resulta do cotejo desta frase com a que foi atribuída a outros líderes europeus que, genericamente, comentaram que a “bazuca europeia” irá contribuir para a recuperação da economia dos respetivos países. Aqui não há confusão entre Governo e País, ao contrário do que sucede com a frase do sr. primeiro Ministro.
A segunda resulta do facto de eu, nesta conversa contigo, há meses atrás, logo que se referiu a hipótese de haver esta “bazuca”, ter emitido a opinião de que a sua gestão, até pela má experiência de aplicação dos fundos europeus em programas anteriores, devia ser entregue a uma Comissão de Gestão, transpartidária, composta por pessoas de especialidades diferenciadas e de reconhecida competência, para responder às necessidades do País e dos seus cidadãos, em particular, dos mais sacrificados.
Agora já sabemos que não, pois se o objetivo central é conseguir o Programa do Governo, o Governo, sozinho, tratará disso, como sempre, por meio da monopolização de todas as decisões vitais para o País, com os resultados que se veem.
Mas se o partido do Governo fosse outro, seria diferente?
O Papa Francisco, lapidarmente, afirmou que “o Natal está a ser sequestrado pelo consumismo”. Parafraseando o Papa Francisco, apetece dizer: “O País está a ser sequestrado pelos partidos”.
Até quando?
Até 2021 Zé, esperando melhores notícias.
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990