Opinião

Bateria(s) apontada(s) à Indonésia

3 dez 2015 00:00

Saradas as feridas e arrumada de vez a questão melindrosa de Timor, cabenos agora descobrir um país admirável, com um potencial económico, turístico e cultural, que vai muito além de Bali.

Felizmente, longe vão os tempos em que a simples menção de “Indonésia” criava na maioria dos portugueses, empenhados na autodeterminação do povo timorense, uma espécie de urticária, uma repulsa natural devido ao facto de, na consciência colectiva nacional dos anos 90, aquele ser visto como um “país agressor”.

Eu próprio demorei algum tempo até ter maturidade suficiente para não confundir o povo indonésio com a política externa que, em determinada altura, levou a cabo o seu governo. Saradas as feridas e arrumada de vez a questão melindrosa de Timor, cabenos agora descobrir um país admirável, com um potencial económico, turístico e cultural, que vai muito além de Bali, já por si, um atractivo singular.

Esta semana tive o privilégio e a honra de ser um dos oradores da “Pesta Indonesia” (Festa Indonésia), evento polifacetado que decorreu na ESECS, em Leiria. No “painel” de conferencistas estava o embaixador Mulya Wirana que, na sua intervenção, nos facultou uma série de dados impressionantes sobre o maior país muçulmano do mundo e terceira maior democracia do planeta.

Retive, de grosso modo, os milhares de ilhas que o constituem, os seus cerca de 250 milhões de habitantes, as centenas de línguas diferentes (tendo a língua oficial - o Bahasa Indonésio - inúmeras palavras derivadas do português e foneticamente reconhecíveis - bola, boneka, natal, paskah, kapela, pasear…), e ainda um território tão vasto que é atravessado por três diferentes fusos horários. Um país moderno, aparentemente laico, que investe mais de dois terços do seu orçamento na educação.

O que falta então para que os nossos países tenham mais que uma tímida relação comercial? Dois países que, afinal, até têm uma herança cultural com surpreendentes afinidades! Eu diria que falta(m) mais… Bateria(s)! O título aparentemente belicista deste pequeno texto não é mais que uma metáfora que alude os responsáveis por este (meu? nosso?) “súbito” interesse por aquele colosso asiático: os leirienses Bateria - Grupo de Gamelão Gong Kebyar, dinamizadores mor desta “Pesta” e que, na figura do seu mentor Miguel Horta, se revelam como os principais impulsionadores da música de tradição javanesa em Portugal.

E se o Gamelão tem uma beleza escultural e um som percutido capaz de criar em nós um transe quase transcendental, que dizer da teatralidade das danças, do exótico sabor da gastronomia, ou das ricas e coloridas vestes daquele longínquo país? Longínquo sim, mas não o suficiente para que impedisse a Bateria de o trazer até nós e, com isso, potenciar ainda mais a nossa vontade de querer partir à sua descoberta.