Opinião
Avó ‘Linda
Os olhos piscam devagar quando és velhinha. Se fores mesmo muito velhinha, piscam pequenos e devagarinho.
A vida toda em slow motion, como se a cada vez que fechas os olhos, não tivesses a certeza de que os podes voltar a abrir. Para quem está de fora, ver-te assim a desistir de vez – e não te tiro razão nenhuma - de cada vez que piscas os olhos, pareces estar a querer confundir ainda mais esta humanidade-pânico. Serás tu ou serei eu a morrer ali?
Ora velhinha, ora bebé. Numa cama, parecemos todos o mesmo. Tinhas uma promessa tácita de viver para sempre. Mas quem te visse ali, a dar o dito por não dito, não imagina uma vida tão cheia de dedo em riste às convicções.
Sabes, avó, a tua geração não é esta. Quem te visse ali, não saberia nunca o que é mandar dois filhos para a guerra. Não sabe o que é perdê-los. Ou ao amor da tua vida. Viver em ditadura e esconder pessoas em casa, pela calada da noite. Ver um irmão preso pela PIDE. Perdê-lo.
As portas sempre abertas para quem tivesse fome e frio. As portas sempre abertas. Não sei em que parte da vida ficaste tão dura. Tão teimosa. Quem te visse ali, não saberia nunca a importância que davas aos caminhos do pinhal. Ao mar. O valor que tem, saber o nome de cada rocha de São Pedro. E saber que Moel se escreve com O e porquê.
Disseste sempre que a tabuada n&atil
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