Opinião
"As palavras que dizes tornam-se na casa em que vives"
"Radiografia de Uma Família", o filme da iraniana Firouzeh Khosrovani que o hádoc apresenta no dia 11 de maio
Esta citação de Hafez, poeta persa do século XIV, evidencia a importância que a casa, enquanto centro da vida familiar e social, possui na cultura iraniana.
Será talvez por isso que a cena de abertura de Radiografia de Uma Família, o filme da iraniana Firouzeh Khosrovani que o hádoc orgulhosamente apresenta no próximo dia 11 de maio, é um plano que percorre lentamente uma casa vazia com a mobília coberta com lençóis.
Esta é a casa de família de Firouzeh, em Teerão, que é revisitada em diferentes momentos do enredo, ao longo dos 82 minutos do documentário.
A decoração, o ambiente, a luz da casa, servem de metáfora às alterações e conturbadas inflexões da vida de Firouzeh.
Este filme vencedor de melhor longa-metragem no conceituado IDFA (International Documentary FilmFestival of Amsterdam), bem como do prémio de Melhor Utilização Criativa de Imagens de Arquivo, no mesmo festival é uma viagem autobiográfica da realizadora por um dos períodos mais interessantes e turbulentos da história recente, A Revolução Islâmica.
Filha de um pai educado na cultura ocidental e de uma mãe religiosa e conservadora, a infância da pequena Firouzeh decorre no seio desta dicotomia, que não é mais do que o espelho do agitação que percorre a sociedade da época.
A toada de Radiografia é a de uma viagem pelas memórias: lenta, compassada, repleta de imagens descoloridas e confusas, entrecortada pela recordação de diálogos esquecidos e de momentos parcialmente perdidos.
E, no fim,... o regresso a casa.
Porque a casa também é uma construção e um percurso.
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990