Opinião
As nossas crianças
Perante esta experiência é natural podermos sentir um misto de emoções como a tristeza, a ansiedade, a raiva, o alívio, o medo e a preocupação. E tudo isto pode ser particularmente difícil para as nossas crianças.
Hoje acordei com um grande sorriso da minha filha logo seguido da pergunta: “Mamã hoje ainda é dia de contenção por causa do vírus?!”
Serenamente respondi que sim: “Agora será um dia de cada vez.”
Estamos em família resguardados em casa, a viver os primeiros dias das medidas de isolamento social e naturalmente a sua ansiedade já se faz sentir. Na passada quinta-feira, na hora de deitar pediu-nos mimos reforçados.
Ficou apreensiva e com muitas saudades dos seus amigos da escola.
Momentos antes tínhamos assistido em família ao comunicado do primeiro-ministro António Costa a dar conta da situação epidemiológica do país e sobre as recomendações e restrições a implementar, enquanto ela jogava o seu jogo preferido no meu telemóvel.
Dias antes a doença Covid-19 foi declarada como pandémica pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e o nosso governo declarou estado de alerta, por isso é mais que natural o aumento dos níveis de stress e ansiedade em todos nós.
A rapidez de propagação do coronavírus e o facto de ser transversal, coloca-nos inevitavelmente e emocionalmente numa condição de vulnerabilidade. Estamos todos juntos no mesmo barco, nós e as nossas crianças e isto conta muito.
O isolamento contribui para conter a propagação do vírus e os que se encontram nesta situação contribuem decisivamente para manter a sua segurança e a dos outros.
A segurança de todos. Hoje mais que nunca. Também sabemos que o isolamento não irá durar para sempre.
Perante esta experiência é natural podermos sentir um misto de emoções como a tristeza, a ansiedade, a raiva, o alívio, o medo e a preocupação. E tudo isto pode ser particularmente difícil para as nossas crianças.
Podem sentir-se tristes, ansiosas, com medo, confusas com a alteração das rotinas diárias e, tal como a Sofia, com muitas saudades dos amigos.
Podem fazer mais “birras” e mostrar-se mais dependentes, irritáveis e terem dificuldade em adormecer. É importante aceitarmos estas manifestações com muito afecto e carinho. São dias difíceis para todos.
Sermos compreensivos e pacientes ajuda muito e procurar dar voz ao que vem de dentro, carregado de emoções fortes e receios, também.
De um modo geral, os medos fazem parte do desenvolvimento das crianças, mas nesta altura tão desafiante das nossas vidas é importante que o coronavírus não seja um assunto que, por um lado, se omita e, por outro, invada a casa numa exposição diária a notícias que possam perturbar.
Mas, acima de tudo, que não seja um assunto colocado em forma de pânico. Isto porque o pânico é “outro vírus” que corrói por dentro e que paralisa e congela a alma.
O importante será sempre explicar o que se passa na forma que possam entender e, sobretudo, tranquilizá-las. Serão apenas alguns dias e todos juntos ultrapassaremos este momento.
Cá em casa vamos manter as actividades diárias habituais, nomeadamente a hora das refeições e de ir dormir, reforçando o espaço para brincar.
Combinámos aprender a enviar emails aos pais dos amigos, fazer desenhos, emojis ou histórias de inventar e enviar por WhatsApp e fazer videochamadas sempre que as saudades apertarem muito, muito!
E iniciámos um desafio comum: fazer desaparecer o smile que desenhamos cada dia em cada mão, lavando-as demoradamente de acordo com as orientações da OMS.
Quando chegarmos aos 20 pontos chegará uma surpresa!
Está assim oficialmente decretado o desaceleramento da vida e a promoção da nossa intimidade e relação familiar.