Opinião
Artes Visuais | Isabel Baraona e Horácio Borralho na Arquivo
Os desenhos da Isabel são leves e sensíveis; As pinturas do Horácio são de cortar a respiração
Muitas e boas têm sido as exposições com que a livraria Arquivo nos tem generosamente presenteado ao longo dos anos, e não querendo menosprezar nem valorizar umas em relação às outras, saliento as duas mais recentes. Desenho: corpos, casas, estórias e outras conversas, de Isabel Baraona, e Photoshop is boring, de Horácio Borralho, encheram-me as medidas. Na primeira observei um trabalho de mestria de desenho e gravura, no segundo, um trabalho de mestria de pintura a óleo.
Os desenhos da Isabel são leves e sensíveis, o risco é sintetizado mas muito elegante, e de algum modo noto que foram concebidos com destreza e prudência. É um tipo de desenho que exige um estudo minucioso e uma produção calma. Parece que pensou muito bem o “o quê”, com que cores e em que posição em relação ao suporte vão surgir. O mesmo se pode dizer das duas maravilhosas gravuras de grande escala que preenchem a parede do fundo, isoladas do resto das obras. Tudo ponderado a fundo, desde a concepção de cada um deles, ao modo como os apresenta. É um trabalho concebido por uma profissional que quanto a mim está num ponto alto de criatividade. Explora, com indica o titulo, a singularidade do corpo humano, e regista-o em papel economicamente, sem grandes aparatos nem truques. What you see is what you get.
As pinturas do Horácio são de cortar a respiração, a maioria delas em formato muito pequeno. Todas partilham as características que referi acerca dos desenhos da Isabel: a sensibilidade, a minuciosidade e a calma com que foram realizados. O “o quê” é que não tem nada a ver. São quase todas elas sobre arte. É isso mesmo, arte a falar de arte. Vemos um retrato de família do pintor Gerard Ricther, um museólogo a pendurar uma tela do Cézanne, e o Damien Hirst a fazer-se fotografar à frente de uma das suas icónicas esculturas de animais conservados em formol. Para alguém fora das “lides” da arte contemporânea, são apenas pessoas, são apenas pinturas e esculturas, mas para alguém “dentro do assunto” as referências são óbvias e assim que observadas ganham um carácter irónico. A mim fizeram-me rir, e acho que foi por isso que ele as concebeu deste modo.
Um grande aplauso à Livraria Arquivo que soube escolher muito bem os artistas, e os oferece de forma gratuita. Aos artistas: venha mais disto, apareçam mais vezes, que sobem sem dúvida nenhuma, a fasquia da oferta cultural e artística da cidade de Leiria.