Opinião
Aquém
Subidas de preço vieram para ficar
Os efeitos da guerra na Ucrânia, nomeadamente, a subida generalizada dos preços de vários bens essenciais estão para perdurar no tempo.
Esta é uma consequência que afeta especialmente as pessoas de mais baixos rendimentos.
De facto, se considerarmos o peso do cabaz alimentar no orçamento das famílias portuguesas, nos 20% mais pobres, este é superior (18,3%) à média da União Europeia (16,2%).
É, também, superior ao das famílias de elevados rendimentos: enquanto o peso do cabaz alimentar nas famílias portuguesas de baixos rendimentos representa 18,3% do seu orçamento, nas de elevados rendimentos é de 11,6%.
Em termos práticos, isto significa que as famílias com mais carências económicas são aquelas que mais sofrerão com a inflação elevada e com a subida generalizada dos preços dos alimentos e, também, da energia.
O risco é real: não haver dinheiro numa família para comprar os produtos alimentares de que precisa ou isso implicar o corte noutras despesas como, por exemplo, nos medicamentos.
Esta iminente emergência económica e social obriga a políticas públicas que salvaguardem estas pessoas.
Se é positiva a medida anunciada pelo Governo de atribuição de 60 euros para muitas destas famílias suportarem alguns destes aumentos, a verdade é que é manifestamente insuficiente, já que estas subidas de preço vieram para ficar.
Olhando para o Orçamento do Estado entregue na semana passada, parece claro que não houve a intenção de dar uma resposta eficaz e robusta a este grande problema social e económico.
Curiosamente, enquanto as famílias perdem rendimento em resultado desta subida generalizada dos preços dos bens, quem mais lucra com isso são os cofres públicos.
A receita fiscal prevista deverá subir cerca de 7%, pelo menos.
Sem prejuízo do rigor e do equilíbrio das contas públicas serem muito importantes, a verdade é que numa situação de exceção como a que vivemos a prioridade tem de ser acudir estas milhares de famílias fortemente afetadas pela inflação.
Agora que se inicia a discussão na especialidade no Orçamento do Estado no Parlamento, espero que haja condições para um reforço dos apoios a estas famílias mais vulneráveis.
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990