Opinião

Aprender o quê?

6 set 2018 00:00

Esse ensino enciclopédico, que fez escola durante anos e anos em Portugal e ao qual muitos professores ainda estão muito agarrados, inclusive no ensino superior, mais do que desactualizado, está obsoleto.

A cerca de uma semana do início do novo ano lectivo, há uma questão que estará de volta à cabeça de inúmeras pessoas: Num mundo em mudanças constantes, em que praticamente todos os dias surgem novidades impensáveis poucos anos antes, o que se deve ensinar aos alunos?

Certamente que não será o nome dos rios e das serras, que há três décadas todos tinham que ter na ponta da língua e que hoje estão à distância de uma entrada no Google.

Esse ensino enciclopédico, que fez escola durante anos e anos em Portugal e ao qual muitos professores ainda estão muito agarrados, inclusive no ensino superior, mais do que desactualizado, está obsoleto, não respondendo minimamente aos desafios que actualmente a sociedade coloca, prevendo-se que num futuro breve o problema se venha a acentuar.

Também a escola preconizada por Nuno Crato, em que o saber técnico e científico tinham um claro ascendente sobre as humanidades, e onde a competição era excessivamente estimulada, parece desajustada a uma sociedade marcada pelos conflitos e pelo individualismo, que necessita claramente de maior espírito critico, mais pensamento e capacidade de reflexão, sem esquecer, obviamente, a solidariedade e as competências necessárias para as adaptações constantes exigidas por um Mundo cada vez mais complexo e imprevisível.

No fundo, se pensarmos bem, a essência de uma boa aprendizagem não mudou assim tanto nos últimos anos, para não dizer de há dois milénios para cá, pois a base onde tudo deve assentar continua a ser formada pela vontade de aprender, pela curiosidade, pelo questionar das ‘verdades’, pela ambição da sabedoria, seja em que área for.

Agora, como nos tempos de Sócrates, Da Vinci, Espinoza ou Einstein, serão esses aspectos que definirão os alunos intelectualmente melhor preparados para o caminho da vida, a que será necessário juntar as competências emocionais e sociais, absolutamente cruciais numa sociedade de relacionamentos e comunicação.

É um pouco isto que refere o Perfil do Aluno para o Século XXI, projecto liderado pelo exministro da Educação, Guilherme d’Oliveira Martins, de quem o Jornal de Leiria tem o privilégio de publicar uma entrevista nesta edição, de leitura obrigatória para todos os educadores, sejam pais ou professores.

Como Oliveira Martins refere na entrevista, “a diferença entre um país desenvolvido e um país atrasado está na capacidade de aprender”, uma bela mensagem para todos os que vão iniciar o ano escolar dentro de alguns dias.

*director