Opinião

Antes de  fazermos 50

25 ago 2024 16:34

Só a curiosidade nos prepara para enfrentar as rugas, os quilos a mais, a queda de cabelo

É o título do podcast que o meu amigo (o escritor) José Luís Peixoto idealizou, para, em conjunto, falarmos dos “grandes temas” da vida antes de, ele e eu, chegarmos a essa marca etária que tanto tem de fascinante, como de inquietante. Agora, convido-vos eu a ouvirem ou verem nas plataformas habituais.

Falámos da música, dos livros, da tecnologia, do tempo, da família, da casa, da morte, e se alguma vez pareceu que falámos com propriedade, não se deixem enganar, já que, à beira dos 50 (que completo na próxima semana, a 26), me parece haver menos respostas que perguntas.

Há várias teorias sobre a idade mas, para mim, são idênticas às teorias do “ser pais”. Ou seja, nada nos prepara verdadeiramente para a experiência, senão a “própria experiência” e por muito que ouçamos ou por muito que leiamos, há uma verdadeira vertigem de um amável desconhecido que se aproxima.

São as perguntas e não as respostas que nos mantém no ativo se o nosso labor for de índole criativa, como é o nosso caso. A nossa fonte de experiência ou de juventude, é e será sempre a mesma: uma mente curiosa.

Só a curiosidade nos prepara para enfrentar as rugas, os quilos a mais, a queda de cabelo, enquanto nos acarinha com novas descobertas como a tranquilidade do campo, novas letras, novos sons, o gosto pela comida, por um bom single malt e pela incessante busca pelo equilíbrio entre o que nos faz mal e o que nos sabe bem.

Penso que é aconselhável abandonarmos os clichés da crise de meia-idade ou de não deixar morrer a criança dentro de nós, porque a idade é como a água do filosofo, ou do Bruce Lee: matéria liquida que se adapta ao vasilhame que somos, frágil nas quedas, mas robusto no transporte desde que nascemos e vamos aprendendo a viver.

Lembro-me, com embaraço, de achar os meus pais velhos quando tinham 50. E agora a bola está do meu lado e tenho de fazer com que o meu filho não me ache nem um velho armado em jovem, nem um jovem armado em velho. Aos 50, esse é o meu maior desafio.


Texto escrito segundo as regras do novo Acordo Ortográfico de 1990