Opinião

A propósito de uma canção

28 jul 2016 00:00

Quando ouço, e leio, e observo o que dizem, e fazem, e pensam, e querem os decisores dos destinos da EU, é neste último grupo que, infelizmente, consigo encaixar o tão aclamado sonho europeu.

Os sonhos são para levar a sério. E por isso devem ser perseguidos e levados o mais longe possível, pesem embora todas as contrariedades e desilusões que vão acarretando. Alguns cumprem-se, com maior ou menor dificuldade, e dão alento e razão de luta a todos quantos teimam no seu. Dos que se não cumprem, alguns irão morrer na praia com direito a lágrimas e a luto; outros serão romanticamente mantidos como possibilidade imprecisa no tempo e no modo, sem a vitalidade própria do sonho mas com o conforto de uma ideia acarinhada e inócua; os restantes, felizmente em menor quantidade, serão transformados num sucedâneo pobre, num remendo maltrapilho e desiludido, fruto da aceitação conformada das circunstâncias que lentamente vai fazendo crer que sim, que ainda é do mesmo sonho que se trata, apenas ligeiramente alterado por naturais contingências.

Quando ouço, e leio, e observo o que dizem, e fazem, e pensam, e querem os decisores dos destinos da EU, é neste último grupo que, infelizmente, consigo encaixar o tão aclamado sonho europeu. O que começou por ser um tratado para a manutenção da paz entre meia dúzia de países, e se alargou depois a outra meia dúzia com o propósito do cruzamento de culturas e nivelamentos na educação e nas condições de vida, transformou- -se lentamente numa luta pela manutenção do poder no norte, pelo desenvolvimento económico no sul, e pela afirmação de identidade no leste.

*Professora de dança

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