Opinião
A guerra económica em curso
Não é só em Portugal que os combustíveis são uma vaca leiteira fiscal
Vivemos, à hora em que escrevo, a terceira semana de guerra na Ucrânia.
Um estado soberano foi invadido por outro sem uma razão atendível.
Mais, a invasão fez-se sob o pretexto cobarde de uma “operação militar especial”. Inaceitável, ignominioso, indesculpável.
Todos os argumentos que pudessem existir para a tensão entre dois países perdem a validade a partir do momento que há uma agressão bélica injustificada.
Sem “mas”. Sem “e os outros casos?”. Esta situação, de tão evidente, não merece discussão.
Como não merece discussão, mas sim reconhecimento e vénia, o acolhimento que milhões de refugiados ucranianos estão a ter em toda a Europa.
Portanto, não vou dedicar-me a debater situações que recolhem unanimidade. Interessa-me mais debater e compreender a componente económica da guerra.
As sanções que foram rapidamente impostas à Rússia podem ser discutidas quanto à sua existência e quanto à sua extensão.
Pode discutir-se se são eficazes sanções económicas para dissuadir um ditador que parece não estar a ter um comportamento particularmente racional.
Pode, até, discutir-se qual é o limite das sanções e embargos, tendo em conta as repercussões económicas (e consequentemente sociais e políticas) em cada um dos Estados que impõem as sanções.
Existem argumentos a favor e contra cada uma das situações, e uma análise que vá para além do maniqueísmo exige ponderação, reflexão e compreensão profundas.
O efeito mais imediato que parece haver é o aumento dos combustíveis.
Com o pretexto da guerra, vimos em toda a Europa preços a subir cerca de 30 cêntimos em duas semanas.
Em toda a Europa, há um clamor para a redução de impostos para reduzir o custo dos combustíveis (sim, não é só em Portugal que os combustíveis são uma vaca leiteira fiscal).
No entanto, seria interessante que se conhecesse quanto estão as empresas (na refinação e na distribuição) a ganhar com estas escaladas de preços.
Quanto aumentou a margem e o lucro das petrolíferas? Sejamos claros, o mercado do petróleo não sofreu qualquer disrupção, pelo que as flutuações das cotações correspondem meramente a especulação de mercado.
Mais do que as sanções, o aproveitamento da guerra por uma elite de países, empresas e pessoas especialmente poderosos (e ricos) deve ser tida em atenção.
Para que o inevitável sentimento de revolta perante situações injustas seja dirigido para as instâncias corretas.
P.S.: Parece que haverá um governo em efetividade de funções na próxima semana. Seis meses passaram desde que o parlamento foi dissolvido - era impossível negociar após o chumbo do OE e era impossível viver sem OE.
Na melhor das hipóteses, haverá Orçamento de Estado em Junho. Seis meses em duodécimos.
Não esqueçamos as responsabilidades dos nossos agentes políticos, nomeadamente do Presidente da República, que nos recomenda agora trocar umas impressões com uma girafa ou um elefante.
Depois das cagarras e do sorriso das vacas que Cavaco admirava, alguém devia analisar o fascínio de presidentes em exercício por animais.
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990