Entrevista

Miguel Reis Silva: “Temos a maior concentração do mundo de ovos de dinossauro por quilómetro quadrado”

4 dez 2025 08:00

O coordenador-executivo do Geoparque Oeste explica como este geoparque da UNESCO, que abrangerá em breve oito municípios, além de ser um santuário do Jurássico e promover ciência é um factor de desenvolvimento com o contributo da população e empresas

Miguel Reis Silva
Fotografia: Ricardo Graça
Jacinto Silva Duro

O que é um geoparque e quais são as características que tornam este especial?

É um território que tem de ter pessoas e continuidade geológica e geográfica. A nossa continuidade geológica está associada ao Jurássico, ou seja, uma história com cerca de 240 milhões de anos, que contamos fruto de um trabalho de investigação desenvolvido nesse território desde o final do século XIX. Hoje, o território do Geoparque Oeste integra seis municípios, Torres Vedras, Lourinhã, Peniche, Bombarral, Cadaval e Caldas da Rainha, com uma área total de cerca de 1.154 km². Isto faz com que tenhamos uma identidade própria, costumes e tradições, que nos tornam diferentes de outros. Temos achados paleontológicos do Jurássico descobertos principalmente no século XX e alguns do XXI. O geoparque tem 12 espécies únicas de dinossauros, quatro ninhos de ovos de dinossauro, o ovo de crocodilo mais antigo do mundo e a maior concentração do mundo de ovos de dinossauro por quilómetro quadrado. Temos também um registo mais recente do Cretáceo, que é o segundo mais antigo do mundo de plantas com flor. Temos ainda, do Jurássico, a Ponta do Trovão, em Peniche, registo estratigráfico que faz parte do grupo de 70 referências mundiais, com a classificação “Prego Dourado” e que é o melhor sítio mundial para estudar um dos “andares” do Jurássico. Temos ainda a abertura tectónica do Oceano Atlântico em 72 quilómetros da nossa linha de costa, onde também temos as Berlengas. Mais do que um território, esta é uma chancela de património mundial ou reserva da biosfera da Unesco, cujo fim é a preservação, a divulgação e promoção do património natural e cultural de um território.

O que mudou quando ganharam a distinção de Geoparque Mundial da UNESCO?

O reconhecimento aconteceu em Março de 2024 e estamos a trabalhar, com a equipa montada, desde 2020. Os impactos de um geoparque não podem ser medidos de um dia para o outro. Se calhar, daqui a cinco anos, teremos respostas. Hoje, aquilo que sentimos é que há uma maior percepção e valorização, em áreas como o turismo, onde se começa a introduzir a temática do geoparque. Estivemos no encontro da Associação Portuguesa de Alojamento Local, em Óbidos, e o Geoparque Oeste esteve presente em quase todas as intervenções. A nossa estrutura é uma plataforma em rede, para encontrar entendimentos e centralizar vontades e preocupações, neste caso específico, do alojamento local. A nível pedagógico, recebemos por semana, no nosso centro de interpretação e no território, cerca de 100 crianças e jovens, de todo o País. Já havia estabelecimentos de ensino a visitar os museus e centros de interpretação locais, contudo, começam a querer visitar a região através do geoparque. Uma das nossas missões é transformar o que é científico e nem sempre é perceptível para o público e torná-lo mais compreensível. Também fazemos esse trabalho de proximidade com as comunidades através, por exemplo, das mais de 36 mesas interpretativas que temos ao longo do território e onde, de forma acessível, tentamos explicar os patrimónios natural e cultural. Costumo dizer que, se vou todos os dias visitar uma praia, porque a paisagem me dá tranquilidade e a vista é fantástica, se souber a sua história e o passado geológico, cultural e a biodiversidade ali presentes, tudo farei para os proteger.

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