Entrevista

Eduardo Marçal Grilo: Em Portugal, há uma burocracia que é muito “empecilhante”

19 nov 2023 12:26

O antigo ministro da Educação, defende a criação de uma rede de escolas de doutoramento, para incentivar a investigação de nível mundial. Critica a burocracia que faz perder ideias de negócio e investimentos

Eduardo Marçal Grilo
Fotografia: Ricardo Graça
Jacinto Silva Duro

Há semanas, num encontro em Leiria, com empresários e academia, a propósito dos 50 anos do 25 de Abril, alguns dos presentes queixaram-se que, hoje, muitos licenciados, embora referidos como “os mais preparados de sempre”, demonstram muitas deficiências em conhecimentos, curiosidade e até incapacidade de agir e de reagir. Qual é a sua opinião?

Depende dos cursos e depende da formação que as pessoas tiveram. O problema que temos é, ao preparar os diplomados, seja em que área for, com a preocupação de os estudantes serem, sobretudo, proactivos. Hoje, as empresas precisam de pessoas que tragam valor acrescentado e que não venham para perguntar “o que é que eu devo fazer?”. Devem vir e dizer, “eu quero fazer isto ou aquilo. Eu tenho aptidão para inovar, para provocar a mudança e acompanhar os novos desafios.” Isto tem a ver, com a preparação científica e boa formação de base. E essa boa formação de base não se adquire somente nos cursos do ensino superior. Adquire-se desde o primeiro ano de escolaridade, até se entrar na vida activa. Aliás, hoje, entra-se na vida activa e continua a estudar-se. Ninguém, hoje, aspira, como era no meu tempo, a fazer um curso e uma parte académica, depois uma parte profissional e, por fim, reformar-se. Isso deixou de existir! Há dias, um empresário de uma grande empresa internacional dizia-me que, quando selecciona pessoas, nas entrevistas, está mais interessado nas perguntas que lhe fazem do que nas respostas às perguntas que ele possa fazer. Há uma certa diferença entre aquele que entra para fazer o que lhe mandam fazer e aquele que entra a pensar pela sua própria cabeça e que contribui para a melhoria do funcionamento, que aumenta a produtividade, que é capaz de inovar, que é capaz de melhorar e tem gosto em fazer diferente. Percebo a preocupação dos empresários, pois, se isso está disseminado como avaliação e conclusão, é porque alguma coisa não está a funcionar nas academias. As componentes essenciais da formação, são a formação científica de base, a atitude e o comportamento, ou seja, a maneira como a pessoa encara a liderança, a responsabilidade, o trabalho em grupo e a proactividade e os valores, o sentido de colectivo, a solidariedade e o respeito pelos outros. Se, de facto, os empresários avaliam negativamente as pessoas que contratam e as pessoas não trazem nenhuma mais-valia, os cursos têm de ser repensados. O problema pode não ser o currículo, mas as metodologias utilizadas, as experiências que cada um tem e o contacto que o curso tem com a realidade empresarial.

Nos últimos anos, a ideia de que Portugal poderia ser uma espécie de “Silicon Valley da Europa” ganhou peso, contudo, estamos a deixar fugir o nosso talento e não estamos a atrair novos cérebros. Para ter startups, precisamos destas pessoas…

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